Uma notícia triste veio da cidade de São Paulo: o tradicional Cine Belas Artes, fundado nos anos 1940, exibiu sua última sessão no dia 18 de março. Sem dúvida, essa data marca a perda de mais um dos poucos cinemas de rua que resistem bravamente ao tempo.
Para quem não sabe,
cinema de rua é o termo utilizado para designar aquelas antigas salas de cinema que não ficam localizadas em shoppings centers. A geração de nossos avós e pais viveu o auge desse tipo de cultura, quando multidões das pequenas e grandes cidades lotavam os cinemas. Hoje, vivemos a era dos multiplex.
Felizmente, cidades como Irati (a 150 km de Curitiba) ainda conservam cinemas de rua fundados há pouco tempo; como é o caso do
Cine Irati.
Pensando em tudo isso, o
Top Listas desta semana homenageia os filmes cujo foco é a Sétima Arte.
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1.Cinema Paradiso (1988) – Este é um filme obrigatório para quem gosta do cinema enquanto arte e entretenimento; por isso, o primeiro lugar nesta listagem. Dirigido pelo italiano Giuseppe Tornatore, conta a história de um menino, Totó, que cresce dentro de uma sala de cinema, o Cine Paradiso do título. Muito mais do que apenas assistir aos filmes, ele trava amizade com o projecionista Alfredo, conhecendo todos os bastidores de uma exibição. A obra-prima de Tornatore resgata o ambiente charmoso e vivo dos antigos cinemas de rua. Triste é ver a cena de destruição do Cine Paradiso, refletida nos olhos lacrimosos daqueles que vivenciaram um período que não resistiu ao tempo. Talvez seja a dor de quem esteve no paraíso, mas não sabia.
2.A Rosa Púrpura do Cairo (1985) – Para quem não aprendeu o que é “função metalinguística” nas aulas de Português, vale a pena ver este filme de Woody Allen. Mas, quem quiser simplesmente se deliciar com a magia do cinema, também recomendo. Mia Farrow vive uma garçonete pobre e triste que assiste todas as tardes ao mesmo filme. Até que um dia, os personagens da telona começam a questioná-la, causando a maior confusão. E mais: saem do filme e vão para a vida real, interferindo no dia a dia daquela moça. É a magia do cinema contaminando o real.
3.Os picaretas (1999) – Concordo, não é a melhor comédia de todos os tempos. Steven Martin e Eddie Murphy já fizeram coisa muito melhor (O que dizer de
Antes só do que mal acompanhado e
Um Tira da pesada?), mas acho que vale a pena uma espiada nesse filme de Frank Oz (diretor que anda meio sumido). Além de cenas impagáveis (como aquela em que o personagem de Murphy precisa atravessar uma rua extremamente movimentada, dezenas de vezes), o que me chama atenção em
Os picaretas é o fascínio da Sétima Arte sobre o diretor Bobby (Martin). Mas, para ele, não importa ser um “zé ninguém” no mundo do cinema; importa fazer um filme. Aos trancos e barrancos, consegue. Aí, vem a grande cena do longa: o olhar de fascinação quando sua obra é projetada na telona. É a magia do cinema acontecendo.
4.Bastardos Inglórios (2009) – Aí, o internauta que acompanha o
Nova Estampa vai me perguntar: onde está o cinema neste filme de Quentin Tarantino? Ora, respondo eu, está em tudo: na linguagem, nas referências, nos personagens e, principalmente, na última cena, quando a ação se passa num cinema de rua. Desde que Tarantino estreou como diretor, ele sempre fez um “cinema referencial”, ou seja, cenas e linguagem que remetiam à história do cinema, principalmente aquele feito nos anos 1970. Em
Bastardos Inglórios, é o
western spaghetti de Sergio Leone, que pode ser percebido principalmente na abertura do filme. A cena final é poesia pura: os nazistas morrem durante uma sessão de cinema. Isto é ou não uma justa homenagem ao poder da Sétima Arte?
5.A Última Sessão de Cinema (1971) – E não poderia encerrar o
Top Listas sem o clássico de Peter Bognadovich. Verdadeira joia da cinematografia norte-americana, essa produção é de uma melancolia e tristeza que deixam qualquer coração em frangalhos. Apesar do título, seu foco central não é o fim de uma sala de cinema; mas sim as transformações que um grupo de jovens vivencia numa cidadezinha no meio do nada. O espaço desolado, a ausência de trilha sonora e o preto/branco acentuam ainda mais o clima de solidão e vazio dos personagens. Parece que a vida não tem sentido naquele local. E o fechamento do único cinema é o ápice da coisa. De certa forma, o pessoal que frequentava o Cine Belas Artes deve ter sentido algo parecido.
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Aproveito para dizer que eu acompanhei de perto o fechamento de duas salas: o
Cine Maringá e o
Cine Horizonte, ambos da cidade de Maringá (PR). Posso dizer que sou um pouco órfão desse processo de extinção dos cinemas de rua.