Música é coisa esquisita, né. Calma, inimigo leitor, parece que estou sendo agressivo com essa manifestação cultural, mas não é isso. Na verdade, estou elogiando-a, dentro daquilo que me parece um elogio.
Quando digo “esquisita”, quero dizer algo que foge a minha compreensão, como é o caso das músicas que nos fascinam, mesmo não as entendendo. Tomo minha própria pessoa como exemplo disso: praticamente analfabeto no idioma inglês, a “língua dos bárbaros” para alguns, ouço e gosto de música cantada nesse código. Tirando uns “yes”, “my names” e tal, o restante das letras é um enigma para minha parca compreensão.
Mas, mesmo assim, deixo de ouvir uma música cantada em inglês? Obviamente que não. Porque isso acontece? Ora, porque a música é universal, rompendo com as barreiras idiomáticas. Na verdade, a letra está escrita na sucessão de melodias e acordes, comunicando, através do som, a dor, a alegria, o desespero, enfim, o sentimento que pode estar expresso na letra.
Mesmo nas letras em português, muitas vezes nem prestamos atenção em seu significado, usando apenas para cantarolar alguns trechos. Seu entendimento está na sonoridade e não na inteligibilidade. Se fosse o contrário, estaríamos reduzindo a arte a mero conjunto de letras, sem levar em conta seu conteúdo. Melhor exemplo disso é o romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, cujo significado não está no entendimento das milhares de palavras inventadas pelo autor, mas sim na musicalidade e da cadência de suas frases. Nesse ponto, somos como o protogonista Riobaldo, que não compreende nem metade do mundo, mas sabe senti-lo e vivê-lo.
Então, sejamos como Riobaldo e pronto.
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