quinta-feira, 30 de junho de 2011

Mais forte que a bebida

(Imagem: omundodoscinefilos.blogspot.com)

A perspectiva desse cartaz traduz bem o espírito do filme


Já de saída, o filme Onde começa o inferno (1959, dir. Howard Hawks) chama a atenção pelo título impactante. Tá certo que não tem nada a ver com o original (Rio Bravo); mas que é legal, ah, isso é.

Nesse western das antigas, o mito John Wayne dá vida a um xerife metido numa encrenca dos diabos: para levar um assassino à justiça, precisa enfrentar um bando da pesada.

E, para piorar, os únicos que podem ajudá-lo nessa empreitada são um bêbado (o galã-cantor Dean Martin), um velho manco e um jovem inexperiente.

É o tipo de bang-bang que agrada a todos: tiroteios, momentos de tensão, romance, amizade, bravura, superação e, claro, muitos litros do bom e velho whisky. Afinal, ninguém era de ferro naquele Velho Oeste do cão.





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terça-feira, 28 de junho de 2011

Ouça entrevista com Kid Vinil

Para quem perdeu a edição desta terça-feira (28) do radiojornal Unicentro Notícias (Rádio Universitária FM 99.7, de Guarapuava-PR), a entrevista com o eterno "boy" Kid Vinil pode ser conferida no podcast abaixo.




NOVA ESTAMPA-Kid Vinil by novaestampa

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A versão dark do “amigo da vizinhança”


O traço europeu de Carmine Di Giandomenico dá forma ao clima noir da narrativa


Com desenhos de Carmine Di Giandomenico e roteiro de David Hine e Fabrice Sapolsky, Homem-Aranha Noir (2011) reconta as origens do super-herói numa versão meio dark; ou melhor, bem ao estilo das narrativas noir da literatura e do cinema.

Fugindo da cronologia tradicional das HQs do aracnídeo, os autores levam o leitor a uma Nova Iorque sombria, miserável e violenta, dominada pela corrupção e pela gangue do Duende. Estamos em 1933, durante a Grande Depressão (período em que os Estados Unidos passaram por uma séria crise econômica e social).

Nesse contexto, os tios de Peter Parker (a verdadeira identidade do Homem-Aranha) são socialistas e agitadores, representando um perigo para as forças dominantes. Consequentemente, Ben Parker é cruelmente assassinado pelos capangas do Duende, um rico empresário inescrupuloso.

Esse acontecimento instala a revolta no jovem Peter, que acaba se tornando assistente do repórter Ben Ulrich, do jornal Clarim Diário. Durante as incursões jornalísticas pelo submundo, nosso herói conhece melhor a pobreza e a opressão na sociedade. Numa delas, ele é picado por uma aranha mística e ganha os famosos poderes aracnídeos.

Em seguida, descobre que Ulrich fora corrompido pelo crime organizado. É o estopim para Peter se tornar um justiceiro mascarado.

Recém-lançado pela Panini Books, divisão de luxo da editora brasileira Panini, Homem-Aranha Noir mergulha num aspecto pouco explorado pelos gibis tradicionais do aracnídeo: seu lado sombrio e calculista. Para o personagem, obter a verdade e restabelecer a ordem justificam os meios usados. Assim, ele é capaz até mesmo de matar a sangue frio um inimigo.

O traço sofisticado e escuro do italiano Carmine Di Giandomenico dá forma a uma ambientação que se aproxima daquelas narrativas noir (em português, “negro”, “sombrio”), imortalizadas no cinema dos anos de 1940/50 e na literatura policial de Dashiell Hammett e Raymond Chandler.

Mais do que nunca, o Homem-Aranha é um herói falível em sua tentativa de fazer o certo.

SERVIÇO
Homem-Aranha Noir (2011)/ David Hine, Fabrice Sapolsky e Carmine Di Giandomenico
108 páginas, formato americano
R$ 15,00 (em média)
Editora Panini Books
Disponível para compra em www.saraiva.com.br ou www.livraria.folha.com.br

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Kid Vinil: a enciclopédia do rock


(Foto: Adriana Martinez)
Kid contou sobre detalhes da produção do novo trabalho

Batizado como Antonio Carlos Senefonte, ele entrou para a história da música brasileira com um nome mais simples e chamativo: Kid Vinil. No comando da banda Magazine, ajudou a pavimentar o caminho do chamado RockBR nos anos de 1980, estourando com os hits “Sou boy” e “Tic tic nervoso”.

Muito mais do que um rock star, Vinil se consagrou ao longo de mais de 30 anos de carreira como uma verdadeira “enciclopédia do rock”, garimpando novas bandas e artistas em suas múltiplas atividades (apresentador de rádio e TV, colunista, crítico musical, escritor, DJ).

E essa lenda viva do rock esteve em Guarapuava (250 km de Curitiba), no último dia 11, para trabalhar como DJ numa festa. Longe dos holofotes da mídia e das grandes gravadoras, Vinil continua fazendo shows com sua banda, a Kid Vinil Xperience (KVX), e produzindo música. Ao final de 2010, lançou o disco independente Time Was, cujo repertório é composto por canções mais obscuras, de bandas dos anos 60 aos 90.

“A ideia era regravar coisas que normalmente ninguém pensaria que a gente fosse regravar. Resultou num disco bastante pessoal, já que é um repertório feito a partir de bandas que eu e o Carlos [Nishimyia, guitarrista da KVX] gostamos e colecionamos. É a realização de um sonho”, explica.

O artista comenta que, durante o processo de produção do disco, o objetivo não era simplesmente fazer um cover das originais. Havia a preocupação de dar uma “cara pessoal” às músicas, ou seja, que a versão representasse o som próprio da KVX.

ANOS 80
Num encontro com Kid Vinil, seria impossível não falar dos anos 80, uma época marcante para sua carreira. Afinal, ele esteve no comando de um programa de rádio, em São Paulo, que apresentou, ao grande público, bandas e cantores até então desconhecidos da mídia. Era o pontapé inicial para que toda uma geração do rock brasileiro começasse a se tornar popular no Brasil.

“O rock veio num momento certo, pois, naquela época, era a música popular que poderia acontecer no rádio e na TV”, afirma Vinil.

Além de revelar parte dessa turma, ele também esteve no olho do furacão, com a Magazine. E quase que um dos maiores sucessos da banda, “Tic tic nervoso”, foi dispensado.

Num primeiro contato com essa canção, Vinil conta que ele e os outros integrantes não gostaram do arranjo, preferindo deixar para o pessoal da Spray gravar. Mas, antes do lançamento do disco dessa banda, com a faixa “Tic tic nervoso”, o DJ teve um sonho revelador. Nele, aparecia a música num novo arranjo, totalmente diferente do original.

Assim que acordou, foi para o estúdio com o guitarrista e gravou a nova versão, tal como mostrada no sonho. No comparativo entre as duas canções, a gravadora preferiu a feita pela Magazine e “Tic tic nervoso” se tornou sucesso em todas as rádios.

CENÁRIO MUSICAL
Após a efervescência dos anos 80, hoje Vinil vive um momento mais tranquilo, sem a cobrança das grandes gravadoras. Segundo ele, o projeto Kid Vinil Xperience é feito dentro de um novo cenário do mercado fonográfico, em que não existe mais a pressão das gravadoras para alcançar o sucesso a qualquer custo, como era no passado.

“Esse é o caminho: não depender mais de gravadoras. O artista tem essa liberdade de fazer o que achar melhor, sem ficar preso à cobrança das gravadoras, que querem produzir o que elas acham que é certo”, afirma Vinil.

ALMANAQUE DO ROCK
Terminando a entrevista, Kid Vinil antecipa que o livro Almanaque do Rock (2008) vai ganhar neste ano uma nova edição, revista e ampliada. O objetivo é incluir bandas e cantores que ficaram de fora da primeira versão (esgotada); além de apresentar um glossário sobre o Rock in Rio, evento que ocorrerá no Rio de Janeiro.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Lenda nos gibis

(Imagem: www1.folha.uol.com.br)

Uma das marcas da HQ é o traço duro


O sucesso do filme Eu sou a Lenda (2007, dir. Francis Lawrence) trouxe à tona um autor que andava meio esquecido do grande público: Richard Matheson. Graças ao carisma de Will Smith, o filme resgatou o livro homônimo de Matheson (no Brasil, fora publicado com o título A última esperança sobre a terra). Boa parte dos espectadores ficou sensibilizada com a triste história de Robert Neville, o último homem na face da terra (isso até a chegada do personagem de Alice Braga). Apesar do clima pesado e desesperançado, o filme ficou a léguas de distância do niilismo de Matheson. Claro que uma versão mais próxima da essência do livro provavelmente não teria cativado o público.
Bom, para aqueles que sentiram falta do “verdadeiro” Matheson, existe uma luz no fim do túnel: no ano passado, a Devir Livraria lançou a versão em quadrinhos Eu sou a Lenda (agora, com o título correto). Escrita e desenhada pelos norte-americanos Steve Niles e Elman Brown, a nova adaptação é bem diferente do filme dirigido por Francis Lawrence. Em síntese, temos uma visão muito mais terrível sobre o apocalipse que se abateu sobre a raça humana. Neville é realmente o único homem que sobreviveu à peste que levou TODOS os outros indivíduos a se tornaram vampiros. Durante o dia, eles se escondem da luz e, à noite, saem para saciar sua fome por sangue. O principal alvo é justamente Neville, que precisa se refugiar em sua própria casa.
Sozinho, o último homem do planeta se entrega à bebida, tentando encontrar uma resposta para o surgimento da peste. Mais para o final do gibi, uma ponta de esperança surge na forma de um cachorro (nada a ver com o simpático pastor alemão do filme) e de uma mulher (também sem semelhanças com a sobrinha de Sônia Braga). No entanto, os fatos são traiçoeiros com Neville, revelando que a humanidade pode atingir um estágio ainda pior do que era antes da peste.
Produzido como uma graphic novel, o trabalho de Niles e Brown tem o mérito de se distanciar da versão cinematográfica de Lawrence (outras duas foram feitas antes: O último homem sobre a terra [1971] e Mortos que falam [1964]) e de se aproximar do livro de Matheson, resultando numa HQ soturna e lacônica. O ponto alto são os desenhos em preto e branco, cujo traço é rude e cru, com falhas feitas de maneira proposital. O ponto fraco é o excesso de texto, que não combina muito com a linguagem visual dos quadrinhos. Mas, ao final, tem-se boa impressão da versão feita por Niles e Brown.
Vale a pena conhecer.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Alunos de Arte-Educação apresentam os espetáculos “Chico Fêmea” e “Versus”

(Imagem: percebersentirconhecer.blogspot.com)

Cartaz do espetáculo Chico Fêmea


Na noite desta sexta-feira (17), os alunos do quarto ano de graduação em Arte-Educação vão apresentar os espetáculos de dança Chico Fêmea e Versus, no auditório Francisco Contini do campus Santa Cruz da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), a partir das 20 horas.
Com entrada franca, as duas apresentações usam a linguagem da dança para compreender o universo dos opostos, em Versus, e do feminino, em Chico Fêmea. “A gente buscou explorar essa força entre o homem e a mulher, esse contraste. Dessa maneira, originou o nome da peça, Versus”, explica Sandra Regina Drugas, uma das integrantes da apresentação.
Já para Poliana Souza, o outro espetáculo, Chico Fêmea, trabalha com o universo feminino. No título, uma referência à menstruação, ou seja, ao ciclo natural da mulher. Não por sinal, todas as integrantes são do sexo feminino.
Tanto Sandra quanto Poliana concordam que o grande desafio foi representar essas duas temáticas no universo da dança. Por meio de recursos como coreografias e movimentos, conseguiram chegar a uma ideia possível da dualidade e do feminino.
Sobretudo, o mais importante é sentir o espetáculo. “Se você não se 'entregar' ao espetáculo, dificilmente vai conseguir passar alguma coisa para o público”, sintetiza Sandra.
As duas apresentações fazem parte de uma disciplina de graduação coordenada pela professora Danielle Souza Batista no curso de Arte-Educação. Ao longo de três meses, os dois grupos ensaiaram e trabalharam os espetáculos Chico Fêmea e Versus.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Unicentro promove o Bloomsday


(Imagem: http://www.unicentro.br/eventos/bloomsday.asp)

Cartaz de divulgação do evento

Pela primeira vez na história da cidade de Irati (150 km de Curitiba), o Bloomsday será realizado nesta quarta-feira (15), no Empório São Luiz, a partir das 20 horas.
Talvez o único feriado mundial consagrado a uma obra literária, o Bloomsday tenta resgatar as aventuras de Leopold Bloom, personagem principal da epopeia moderna Ulisses (1922). Escrito por James Joyce, o livro se passa num único dia: 16 de junho de 1904.
Todos os anos, vários países, incluindo o Brasil, festejam a data, organizando mostras, debates, oficinas, apresentações teatrais sobre o romance joyceano. De maneira pioneira, o Departamento de Letras da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste) vai promover o evento em Irati.
ORGANIZAÇÃO
No áudio abaixo, uma das organizadoras do evento e professora da instituição, Denize Lazarin, conta como será a edição iratiense do Bloomsday.


*****A matéria foi ao ar originalmente no programa de rádio Unicentro Notícias, da Rádio Universitária FM 99.7, de Guarapuava (PR).

NOVA ESTAMPA-Bloomsday (14-06-11) by novaestampa

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Cine Sesc exibe filmes paranaenses

(Foto: gazetaonline.globo.com)

Haruo Ohara é um dos filmes da mostra


Ligado ao Sesc Paraná, o projeto cultural Cine Sesc retorna a Guarapuava com a exibição de seis filmes paranaenses nesta terça-feira (14), às 19h30min, no Cine Unicentro do campus Santa Cruz da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), em Guarapuava (250 km de Curitiba).
Sob o nome de “Cinema Paranaense em Expansão 2011”, a mostra tem como objetivo divulgar a produção estadual de curtas-metragens. Na programação, os filmes Meu medo (2010), Deus (2010), Mesera (2010), Bolpedra (2011), Haruo Ohara (2010) e Vó Maria (2011).
Todos os filmes serão exibidos numa mesma noite, com entrada franca.

MEU MEDO
Direção: Murilo Hauser.
Descrição: independentemente de sua causa, o medo geralmente faz com que os sentidos da visão e da audição sejam instantaneamente aguçados. O ser amedrontado permanece imóvel e sem respirar, como uma estátua, ou então se esconde como uma reação instintiva de escape à observação. O coração bate rápido e violentamente. A respiração acelera. As pupilas se dilatam. Os olhos permanecem abertos.

DEUS
Direção: João Krefer
Descrição: Deus existe não existe Deus.

MESERA
Direção: Pedro Merege
Descrição: Emílio Varela em seu carro vai cruzar a fronteira para uma "entrega especial". Numa parada à beira da estrada conhece Camélia, a mesera...

BOLPEBRA
Direção: Guilherme Marinho, João Castelo Branco, Rafael Urban
Descrição: Bolpebra, na fronteira entre Bolívia, Peru e Brasil, tem quarenta habitantes e acaba de instalar sua praça central.

HARUO OHARA

Direção: Rodrigo Grota
Descrição: Hoje você vê a flor. Agradeça à semente de ontem.

VÓ MARIA
Direção: Tomás von der Osten
Descrição: Memória em três tempos.


****Textos da “Descrição” fornecidos pelo site www.sescpr.com.br

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sergio Leone, um escultor do tempo

(Foto: obviousmag.org)

Em Era uma vez no Oeste, a distensão do tempo e a fábula


Talvez uma das categorias narrativas mais abstratas da ficção (seja ela verbal, visual ou audiovisual), o Tempo é uma incógnita para o ser humano. Da filosofia sofisticada à filosofia de “boteco”, todo mundo sempre buscou uma resposta para as angústias temporais: por que ocorrem mudanças em nossa história, em nosso “eu” interior? Como medir a passagem do tempo? Quais as implicações de nossas atitudes no presente? Por que o passado nos fascina tanto?
No cinema, o diretor que melhor soube explorar as inconstâncias e agruras do tempo foi Sergio Leone. Italiano de origem, ele se apropriou de um gênero tipicamente norte-americano – o western ou faroeste, na adaptação tupiniquim – para reinventá-lo como western spaghetti. Os três filmes que compõem a chamada “Trilogia dos dólares” - Por um punhado de dólares (1964), Por uns dólares a mais (1965) e Três homens em conflito (1966) - descobriram o ator Clint Eastwood, o “estranho sem nome”, e se tornaram referência para o cinema mundial, inclusive para os ianques (quem viu Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino, sabe do que estou falando).

Apesar da relevância desses filmes, prefiro comentar sobre outra sequência não menos importante: a “Trilogia da América”. Vistos em conjunto, Era uma vez no Oeste (1969), Quando explode a vingança (1971) e Era uma vez na América (1984) compõem um painel histórico e mitológico sobre a formação dos Estados Unidos da América. É o olhar estrangeiro de Leone sobre os mitos fundadores do western, na produção de 1969; os mitos revolucionários da luta armada, em 1971; e os mitos do gangsterismo, em 1984.


Ao recontar e reinventar a história, os mitos e os gêneros cinematográficos dos EUA, Leone conseguiu chegar a um nível de complexidade típico dos cineastas que se arriscam a trabalhar com a categoria do Tempo. Por isso, em minha modesta contribuição, ouso afirmar que a segunda série de filmes desse cineasta italiano é a “trilogia do Tempo”.

Em Era uma vez no Oeste, Leone recria os famosos arquétipos e temas do velho oeste fordiano. Estão lá: o duelo definitivo ao pôr-do-sol, o grande vilão (personificado nos olhos azuis de Henry Fonda), o mocinho movido pela vingança (a interpretação marcante de Charles Bronson), a heroína indefesa (Claudia Cardinale), as paisagens de John Ford, a trilha spaghettiana de Ennio Morricone.
No entanto, mais do que uma homenagem ao cinema fordiano e a estrelas como John Wayne, o italiano imprime outras cores a esses mesmos mitos. O que move os homens do velho oeste novo não é mais o código de honra de mocinhos e bandidos, mas sim a ambição e a engenharia capitalista. Nesse universo, os vilões usam a tática do dinheiro para vencer seus inimigos, deixando de lado as armas e a coragem. O bandido vivido por Fonda é um dos últimos românticos; o mesmo vale para o mocinho de Bronson.

Basicamente, o filme se define pelo conceito temporal da fábula (embutido no título). O “era uma vez” nos remete aos contos de fada, um espaço da lenda, do tempo imutável em que os personagens permanecem presos a uma perspectiva fixa e rasa. O filme leva o espectador a esse tempo, com seus mitos do velho oeste; mas, em seguida, propõe uma ruptura, uma transição. Assim, Leone subverte o tempo da lenda para mostrar as profundas transformações do Oeste: os valores tradicionais (honra, coragem, destreza, herói, vilão) perdem terreno para uma nova era, marcada pelos interesses capitalistas.

O mesmo ocorre em Quando explode a vingança, talvez a obra mais politizada do cineasta italiano. Seguindo a lógica do filme anterior, o mais correto seria chamá-la de “Era uma vez a Revolução”, já que é uma produção que se preocupa em discutir o fim do sonho revolucionário, encarnado nas decepções do personagem irlandês Sean Mallory (James Coburn).

Alternando imagens do passado mais radical do irlandês com seu presente desesperançoso, sua trajetória busca a redenção e o acerto de contas com sua história pessoal. É como se o personagem tentasse reencontrar seu “eu” do passado para consertar os erros cometidos em outra época. Aos poucos, o tempo mostra que a amizade e a tolerância eram mais importantes do que seus frágeis ideais revolucionários.

Por fim, o filme que fecha essa trilogia é Era uma vez na América. Novamente, o uso do tempo fabular é usado para discutir as transformações nos Estados Unidos e na relação de amizade entre dois personagens ao longo do tempo.

Se Era uma vez no Oeste refunda os mitos tradicionais do western cinematográfico e do oeste norte-americano, o Era uma vez na América reinterpreta as lendas do gangster film e do universo urbano ianque. O caminho deixado por clássicos como O Poderoso Chefão (1972) é retomado para deixá-lo nos trilhos do esfacelamento socioafetivo. Ao romantismo coppolaniano, Leone contrapõe o fracionamento temporal do homem.

No lugar dos imigrantes italianos, são os judeus que dão as cartas na formação do crime organizado pelas mãos do gângster. Sai a áurea e os valores ítalo-americanos para a entrada da loucura e do ceticismo judeu. São outros tempos e outros códigos.
No plano social, temos a corrupção, a criminalidade, a violência, o submundo, a lei seca, o tráfico de bebidas; no plano afetivo, as amizades, as frustrações, os amores, as traições.
Numa palavra, esse filme de Leone traça a história de amizade entre os personagens Max (James Woods) e Noodles (Robert De Niro) desde a infância de roubos, passando pelo domínio do crime organizado, até chegar ao desfecho melancólico, quando já estão velhos e amargurados pela passagem do tempo.
Assim como fez com o faroeste, Leone também não faz apenas um filme sobre gângsteres; mas sim um filme sobre valores universais frente à fragilidade do tempo.
Após assistir à “trilogia do Tempo”, não somos mais os mesmos em todos os sentidos. Esse é o verdadeiro cinema de Sergio Leone, um artesão do tempo e do cinema.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mostra exibe “Era uma vez na América”

(Foto: dignow.org)
Robert De Niro é o mafioso Noodles no filme

No penúltimo dia de funcionamento da “Mostra e Oficina de Cinema Sergio Leone”, o NPCinema (Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema da Unicentro) exibe Era uma vez na América (1984) nesta quinta-feira (09), no Cine Unicentro. Estrelado por Robert De Niro e James Woods, esse filme encerra, ao lado de Era uma vez no Oeste (1969) e Quando explode a vingança (1971), a chamada “Trilogia da América”.
Dentro do projeto “sergioleoniano” de reinterpretar os mitos fundadores da América, a saga de amizade e violência dos gângsteres judeus Noodles (De Niro) e Max (Woods) no centro da trama. Se em Era uma vez no Oeste havia o mito do Oeste e Quando explode a vingança o sentido revolucionário, em Era uma vez na América é o olhar sobre a formação urbana norte-americana. Crime, violência, amizades problemáticas, amores fragilizados, tudo isso faz parte do mosaico social montado por Leone em sua derradeira obra.
E, novamente, a categoria narrativa do tempo tem papel preponderante na estrutura do filme. Por meio de flash backs, o presente melancólico e fracassado de Noodles se contrapõe ao passado glorioso e amargo. Aos poucos, a verdade vem à tona para resultar num desfecho enigmático, que se tornou a grande charada de Sergio Leone.
Em virtude do tamanho do longa-metragem, excepcionalmente a sessão desta quinta-feira se inicia às 19h00min.
SERVIÇO
O que: Era uma vez na América
Quando: quarta-feira, às 19h00min
Onde: Cine Unicentro, campus Santa Cruz da Unicentro (Guarapuava-PR)
Quanto: Entrada franca, com direito a certificado de participação

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Mostra exibe “Quando explode a vingança”

(Foto: cineindiscreto.wordpress.com)
James Coburn interpreta o papel de um irlandês revolucionário no filme


No terceiro dia de funcionamento da “Mostra e Oficina de Cinema Sergio Leone”, o NPCinema (Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema da Unicentro) exibe Quando explode a vingança (1971) nesta quarta-feira (08), no Cine Unicentro. Estrelado por James Coburn e Rod Steiger, esse filme compõe, ao lado de Era uma vez no Oeste (1969) e Era uma vez na América (1984), a chamada “Trilogia da América”.
Menos conhecido na obra de Sergio Leone, Quando explode a vingança foi uma aposta do diretor no viés político, apresentando a história de dois sujeitos – um irlandês, o outro mexicano – que estabelecem amizade em meio a ideais revolucionários. Tudo pontuado pela gramática “sergioleoniana”: enquadramentos asfixiantes, dilatação do tempo, música de Ennio Morricone e narrativa operística.
À época de seu lançamento, o filme não foi bem recebido por crítica e público, fracassando nas bilheterias. O estúdio United Artists resolveu retalhar o filme, causando grande desconforto a Leone.
O diretor italiano somente iria se recuperar artisticamente nos anos de 1980, quando rodou o clássico Era uma vez na América, encerrando a “Trilogia da América”.
SERVIÇO
O que: Quando explode a vingança
Quando: quarta-feira, às 19h30min
Onde: Cine Unicentro, campus Santa Cruz da Unicentro (Guarapuava-PR)
Quanto: Entrada franca, com direito a certificado de participação

terça-feira, 7 de junho de 2011

Mostra sobre Sergio Leone exibe "Era uma vez no Oeste"

(Foto: avidaeaobra.wordpress.com)

Cena de abertura antológica de Era uma vez no Oeste


No segundo dia de funcionamento da “Mostra e Oficina de Cinema Sergio Leone”, o NPCinema (Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema da Unicentro) exibe Era uma vez no Oeste (1969) nesta terça-feira (07), no Cine Unicentro. Considerado um dos grandes clássicos, esse filme marcou o auge do gênero Western nos anos de 1960, quando Sergio Leone levou ao extremo as possibilidades de enquadramento e temporalidade em seu cinema. É o que se pode chamar de uma “gramática sergioleoniana”.
Apesar do status de “obra-prima”, Era uma vez no Oeste foi mal compreendido à época, despertando aversão da crítica e do público. Muitos não quiseram ou não tinham maturidade para aceitar o estilo operístico de Leone, que moldou uma produção lenta, grandiloquente e extensa. Mas, sobretudo, genial.
Depois de Era uma vez no Oeste, os atores Henry Fonda, Charles Bronson, Jason Robards e Claudia Cardinale talvez não tenham feito mais nenhum papel memorável no cinema.
SERVIÇO
O que: Era uma vez no Oeste
Quando: terça-feira, às 19h30min
Onde: Cine Unicentro, campus Santa Cruz da Unicentro (Guarapuava-PR)
Quanto: Entrada franca, com direito a certificado de participação

segunda-feira, 6 de junho de 2011

“Mostra e Oficina de Cinema Sergio Leone” começa hoje


(Foto: revistaogrito.com)
Da esq. para a dir., Eastwood é o Bom, Wallach é o Feio e Van Cleef o Mau no primeiro filme da Mostra

Como parte de suas atividades no ano, o NPCinema (Núcleo de Produção e Pesquisa em Cinema da Unicentro) promove a “Oficina e Mostra de Cinema Sergio Leone” entre os dias 6 e 10 de junho, no campus Santa Cruz da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste).
Durante uma semana, serão exibidos filmes representativos da produção cinematográfica do cineasta italiano Sergio Leone: Três homens em conflito (1966), na segunda-feira; Era uma vez no Oeste (1969), na terça-feira; Quando explode a vingança (1971), na quarta-feira; e Era uma vez na América (1984), na quinta-feira; e, na sexta, a oficina “Tempo e Cinema em Sergio Leone”, ministrada pelo acadêmico do curso de Jornalismo (Unicentro) e mestre em Estudos Literários (UFPR), Cristiano Martinez.
Segundo a organização do NPCinema, o objetivo da mostra é retornar à obra de um cineasta central na história da cultura ocidental, discutindo o modo como a categoria narrativa do tempo se articula em seus filmes.
As sessões e a oficina estão programadas para se iniciarem às 19h30min no Cine Unicentro, com entrada gratuita e emissão de certificados.
TRÊS HOMENS EM CONFLITO
Ao lado das produções Por um punhado de dólares (1964) e Por uns dólares a mais (1965), Três homens em conflito (1966) encerra a chamada “Trilogia dos dólares”. Também conhecido no Brasil pelo nome O Bom, o Mau e o Feio, esse filme marca o grande momento da parceria entre o ator Clint Eastwood e o diretor Sergio Leone.
Destaque também para os enquadramentos e o estilo operístico que viraram marca registrada no cinema sergioleoniano; além, é claro, da trilha sonora composta por Ennio Morricone.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Acompanhe entrevista com Carlão, do Nenhum de Nós


(Foto: luahluciana.blogspot.com)
Carlão é guitarrista do Nenhum de Nós


Para quem perdeu a entrevista com Carlos Stein, guitarrista do Nenhum de Nós, acompanhe abaixo a matéria completa.
A entrevista foi ao ar pela Rádio Universitária FM 99.7 (Guarapuava-PR) na manhã de hoje, 3 de junho, durante o programa Unicentro Notícias. O principal assunto da conversa foi o lançamento do décimo álbum de estúdio do Nenhum, Contos de Água e Fogo.


NOVA ESTAMPA-Entrevista com Carlos Stein (Nenhum de Nós) by novaestampa

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Unicentro Notícias entrevista guitarrista do Nenhum de Nós

(Foto: lucassgoulart.wordpress.com)

Em Contos de Água e Fogo, Nenhum de Nós elabora uma sonoridade sinestésica

Com exclusividade, o programa de rádio Unicentro Notícias leva ao ar nesta sexta-feira, 03 de junho, a partir de 11h35min pela Universitária FM 99.7, uma entrevista com Carlos Stein, integrante do grupo Nenhum de Nós.
Expoente da geração 80 do chamado RockBR, o Nenhum de Nós ajudou a projetar nacionalmente a cena roqueira do Rio Grande do Sul. Ao longo de mais de duas décadas, Thedy Correia, Carlos Stein, Veco Marques, João Vicenti e Sady Hömrich emplacaram sucessos como “Camila, Camila”, “Astronauta de Mármore”, “Sobre o Tempo”, “Você vai lembrar de mim”, entre outros.
Em abril passado, o Nenhum de Nós lançou seu décimo álbum de estúdio, Contos de Água e Fogo. Marcado pela sonoridade característica da banda, o novo trabalho incorpora novos elementos e conta com a participação de gente como Leoni, Fábio Cascadura, Pablo Uranga, SOCIO e Duca Leindecker. Entre as novas canções, destaque para “Último Beijo”, “Outono Outubro”, “Água e Fogo” e “Pequena”.
Na entrevista que vai ao ar no Unicentro Notícias, a reportagem conversou sobre Contos de Água e Fogo com Carlos Stein, guitarrista da banda.
SERVIÇO
Programa: Unicentro Notícias
Data: sexta-feira, 3 de junho
Horário: 11h35min
Emissora: Universitária FM 99,7
Na web: http://www.universitariaentreriosfm.com.br/