terça-feira, 18 de maio de 2010
Quase o último dos caciques
Como todos sabem, algumas regiões do Paraná sofreram forte influência da colonização gaúcha. Segundo o jornalista Aramis Millarch, num de seus artigos para o jornal O Estado do Paraná, nos anos 1980, os costumes do Rio Grande do Sul foram trazidos pelos imigrantes daquele estado para o Paraná a partir da segunda metade do século 20.
As regiões mais afetadas foram o Oeste e o Sudoeste. Nessa história, o Centro (indo de Guarapuava a Irati) também passou pelo mesmo processo.
Como consequência dessa colonização, nasceram os CTGs (Centros de Tradições Gaúchas), locais onde se pode dançar, cantar e cultivar o orgulho de ser descendente do povo gaúcho.
Num desses CTGs, Jair Lemes, Nelson Teixeira e os irmãos Adilson e Marcelino Batista Mores se reuniram para o lançamento oficial do grupo Os Caciques, em 1981, durante uma apresentação no antigo distrito de Candói, pertencente a Guarapuava (a 250 km de Curitiba, capital paranaense).
Passados quase 30 anos, hoje Candói é uma cidade, a cultura gaúcha continua presente nos lares guarapuavanos e os bailes ainda são animados pelo ritmo fandangueiro de grupos como Os Monarcas e Os Serranos.
Mas, e Os Caciques, ainda continuam na ativa?
Para saber mais sobre isso, a reportagem do blog Folhão entrou em contato com Jair Lemes, guitarrista e violonista do grupo. Ele conversou durante meia hora sobre a história dos Caciques; sua carreira-solo, que já está no segundo CD; a música gaúcha; entre outros assuntos.
INÍCIO
Jair Lemes recorda com carinho dos anos iniciais de Os Caciques, quando lançaram o primeiro de sete trabalhos, Fandango de Campanha (1983). “Na época, não existiam tantos grupos musicais gravando. A gente gravava um LP e todas as 12 músicas rodavam nas rádios”, afirma.
Segundo Lemes, três canções não podiam faltar no repertório dos bailes “Amor esquecido”, “Saudade de Guarapuava” e “Fandango de Campanha”.
Mesmo com a presença de grupos de maior destaque no cenário sulista, como Os Monarcas e Os Serranos, ele diz que Os Caciques sempre tiveram espaço cativo. “O público guarapuavano gosta e valoriza a música composta e cantada por gente desta terra”, complementa.
COMPOSIÇÃO
Diante da “facilidade” de fazer covers de canções de outros grupos, o cacique afirma que a proposta deles sempre foi de compor material próprio, pois havia necessidade de projetá-los. Para isso, não podiam se limitar a “copiar” as canções alheias.
Sobre isso, Lemes explica um pouco sobre o processo de composição, já que ele também é autor de vários sucessos gravados por seu grupo. “Para compor, depende da inspiração. Geralmente, a gente se baseia em histórias verídicas, contadas por pessoas que vêm falar conosco. Aí, através de uma frase, a gente ‘tira’ o tema para fazer a composição”.
GAUCHESCO
Uma das marcas da música gauchesca é a referência ao dia a dia do típico habitante dos pampas. Nas letras de Os Caciques, é muito comum encontrar menção ao campo e ao cavalo. “Geralmente, me questionam sobre a obsessão do gaúcho falar tanto no cavalo. É porque o cavalo se configura no meio de transporte do homem do campo. Antigamente, não havia essa facilidade de hoje, com asfalto para todo lado. Para se locomover de um lado para o outro, cada um tinha que ter seu cavalo. Por isso, a música gauchesca precisa desse elemento”, explica Lemes.
ACORDEON
Instrumento emblemático na música gaúcha, o acordeon (também chamado de gaita, sanfona ou “acordeona”), não podia faltar. “Um grande grupo começa com um grande gaiteiro. Por isso, temos até hoje o Adilson Mores como integrante dos Caciques, representando o instrumento”, alerta Lemes.
SHOW
Quanto perguntado sobre um grande show dado pelos Caciques, o guitarrista guarapuavano se lembra de um baile realizado em Itapetininga, interior de São Paulo, para mais de 15 mil pessoas.
“Mas, já tocamos em vários lugares do Brasil, principalmente em São Paulo, norte do Paraná e Rio Grande do Sul. Já tocamos em quase todos os CTGs que você ouvir falar. E, é claro, Guarapuava é o nosso carro-chefe, nossa cidade natal”, complementa.
NOVOS RUMOS
Antenado com os rumos da música gauchesca, Lemes aponta algumas tendências atuais. Para ele, um ritmo que predomina hoje em dia é o vaneirão, muito tocado nos bailes, pois é bastante animado.
Outro é o bugio (criado pelo gaiteiro Neneca Gomes, o som foi inspirado no ronco dos macacos bugios), que, segundo ele, andava esquecido; mas está voltando com força total, principalmente, na dança.
Quanto aos novos grupos gauchescos, o guitarrista cacique é um pouco reticente, principalmente em relação à Tchê Music. “Olha, acho que essa tal de Tchê Music não tem preservado a essência da autêntica música gaúcha. O pessoal desse gênero está modificando demais o ritmo tradicional, descaracterizando-o”, explica.
CARREIRA-SOLO
Segundo Lemes, atualmente Os Caciques continuam na atividade, reunindo-se ocasionalmente para animar bailes ou simplesmente pelo prazer de tocar juntos, com a seguinte formação: Jair Lemes; Beraldo do Amaral; Adilson Mores e seu filho, Adilson Jr. “O último trabalho gravado foi o CD Tocando baile, lançado em 2004. De lá para cá, fiz uma compilação dos maiores sucesso do grupo no CD Coletânea Os Caciques e lancei em 2009. Para o ano de 2011, estamos programando as comemorações de 30 anos do grupo”, afirma.
Paralelamente, Lemes está investindo em sua carreira-solo. Em 2005, lançou Cantando pra Guarapuava; em 2008, Vida de artista; e, para 2010, pretende gravar o terceiro CD.
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Crédito da Foto: Divulgação
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