quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

15 anos sem Francis

No dia 4 de fevereiro de 1997, o jornalista e colunista Paulo Francis era vítima de um enfarto do miocárdio

(Bob Wolfenson)

 “Waaal”. É inevitável. Começar um texto falando sobre Paulo Francis nos obriga a fazer referência a seu famoso bordão “waaal”, que, por sua vez, era uma brincadeira jocosa com a palavra inglesa “well” (“bem”). Francis começou a escrever e a falar de modo particular esse advérbio a partir de uma gravação do poeta Enza Pound.

Por falar nisso, ironia e sarcasmo eram os pilares de seu texto, de suas conversas e dos comentários gravados para a TV. Além, é claro, da prosa direta, fluente e sedutora. Durante décadas de atuação no jornalismo impresso, iniciada ao final dos anos de 1950 no extinto jornal Diário Carioca (veículo que marcou história na imprensa brasileira), Francis sempre manteve verve ácida e olhar perspicaz para tudo que envolvesse política e cultura. Por conta desse estilo, angariou verdadeira legião de leitores e muitas inimizades.

Trabalhando em jornais históricos como Última Hora, O Estado de S. Paulo e Folha de S.Paulo (além do já citado Diário Carioca), o polêmico jornalista se celebrizou pela coluna “Dário da Corte”, espaço publicado duas vezes por semana em página inteira (formato standard, aquele grandão), coisa rara hoje em dia.

Nos anos de 1980, tornou-se ainda mais conhecido do grande público. Foi para a Rede Globo de Televisão e produziu comentários diários no Jornal da Globo sobre política externa. Morando em Nova Iorque (EUA) desde os anos de 1960, num exílio voluntário em função do Golpe de 64 (ou Revolução para os homens da caserna), aproveitou para exercer a função de correspondente internacional da empresa de Roberto Marinho.

Em 1993, é convidado a participar do programa de debates Manhattan Connection na TV a cabo. Comandado por Lucas Mendes, o time de comentaristas reunia Caio Blinder, Nelson Motta e, claro, Francis. Este manteve seu perfil sarcástico e ácido, não poupando ninguém, nem mesmo seus companheiros de bancada. Aos poucos, tornou-se a alma do programa, que continua até hoje a ser exibido na TV por assinatura. No entanto, perdeu muito com a morte de Francis, em 1997.


Neste sábado (4), completam-se 15 anos da morte de um dos mais ousados e inteligentes jornalistas da segunda metade do século 20. Sua morte, vítima de um enfarto do miocárdio, marcou o fim de um estilo de jornalismo que não se vê mais hoje. Politicamente incorreto, impreciso com fatos e datas, exageradamente polêmico, amado por muitos e odiado por outros, Francis personificou aquela imagem romântica do jornalista boêmio e metido a intelectual.

Colecionou confusões, erros e polêmicas. Mas, acima de tudo, fica a lembrança de um autor inteligente e sofisticado, que não tinha papas na língua.

Um comentário:

  1. "Waall"
    E, há 15 anos, ficamos órfãos de um jornalismo inteligente e sem os falsos pudores de nossa mediocridade social brasileira.

    Até,
    Adriana.

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