domingo, 20 de março de 2011

Os meninos que não sobreviveram aos lobos




Graças à adaptação feita pelo diretor de cinema Clint Eastwood em 2003, descobri Sobre Meninos e Lobos – Mystic River (2001), um romance cru e intenso escrito por Denis Lehane. Mesmo tendo assistido ao filme quando de seu lançamento, confesso que só agora fui realmente conhecer o livro a fundo, vencendo suas mais de 400 páginas. Não que a extensão tenha me intimidado, mas é que circunstâncias da vida (tempo, ocasião etc. e tal) me fizeram chegar a ele somente em 2010, quando o achei num sebo curitibano e fui lê-lo neste ano.
A espera valeu a pena, pois acredito que cada livro, canção ou filme tem o seu momento certo de apreciação. Muitas vezes, não temos a maturidade necessária para compreender e sentir de fato uma obra naquele momento; paciência é uma virtude fundamental no mundo das artes.
A distância no tempo também foi importante para me desvencilhar do filme, já que fazia um par de anos que não revia a fita. Desse modo, não me lembrava do assassinato e, principalmente, de sua resolução. Apenas sabia que a história central girava em torno de três amigos (Dave, Jimmy e Sean) que, na infância, vivenciaram um momento traumático e o fim da amizade.
Falando assim, fica claro que se trata de um livro pertencente ao romance policial, gênero imortalizado por nomes como Conan Doyle, Agatha Christie, Raymond Chandler, Dashiell Hammett, Patricia Highsmith, Luiz Lopes Coelho, Rubem Fonseca. Mas engana-se quem acha que Sobre Meninos e Lobos se resume ao esquema “crime/investigação/solução”. Não, o escritor norte-americano Denis Lehane supera as convenções do formato, oferecendo uma narrativa que explora o íntimo de vários personagens e torna-se difícil de ser digerida à primeira vista. Você precisa mergulhar a fundo no espírito do romance e tentar entender uma galeria de figuras destroçadas por experiências diversas cujo estopim é um episódio que ocorre logo no início do romance.
Quando brincavam na rua de um dos bairros, Sean, Jimmy e Dave são abordados por um estranho carro marrom, que aparentemente seria da polícia. Dos três personagens, Dave é levado pelos dois homens que estavam no automóvel; ele reaparece dias depois. A partir dali, a vida afetiva desses garotos muda drasticamente, principalmente para o sequestrado. Anos depois, cada segue sua respectiva vida na mesma cidade: Sean se tornou investigador da polícia, mas com um casamento desfeito; Jimmy é um ex-presidiário que perdeu a primeira esposa, casou-se novamente e mantém uma loja; e Dave tem empregos ruins, sem autoestima e com mulher e filho.
A morte da filha de Jimmy, Katie, vai fazer com que eles se reencontrem novamente, com resultados desastrosos. A narrativa lenta e dura do livro é perfeita para moldar essa história.
Um conselho: não leia o livro como se fosse apenas um romance policial tradicional; mas sim como uma obra intensa e triste, à altura da grande literatura.

Um comentário:

  1. Assisti ao filme a época e adorei-o com toda sua crueza e falta de expectativas!

    Quanto ao romance, após suas colocações, resta-me lê-lo agora. Obrigada pela indicação de leitura!!!

    Até,
    Adriana.

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