terça-feira, 22 de março de 2011

TOP LISTAS: o cinema é ilusão

Uma notícia triste veio da cidade de São Paulo: o tradicional Cine Belas Artes, fundado nos anos 1940, exibiu sua última sessão no dia 18 de março. Sem dúvida, essa data marca a perda de mais um dos poucos cinemas de rua que resistem bravamente ao tempo.
Para quem não sabe, cinema de rua é o termo utilizado para designar aquelas antigas salas de cinema que não ficam localizadas em shoppings centers. A geração de nossos avós e pais viveu o auge desse tipo de cultura, quando multidões das pequenas e grandes cidades lotavam os cinemas. Hoje, vivemos a era dos multiplex.
Felizmente, cidades como Irati (a 150 km de Curitiba) ainda conservam cinemas de rua fundados há pouco tempo; como é o caso do Cine Irati.
Pensando em tudo isso, o Top Listas desta semana homenageia os filmes cujo foco é a Sétima Arte.

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1.Cinema Paradiso (1988) – Este é um filme obrigatório para quem gosta do cinema enquanto arte e entretenimento; por isso, o primeiro lugar nesta listagem. Dirigido pelo italiano Giuseppe Tornatore, conta a história de um menino, Totó, que cresce dentro de uma sala de cinema, o Cine Paradiso do título. Muito mais do que apenas assistir aos filmes, ele trava amizade com o projecionista Alfredo, conhecendo todos os bastidores de uma exibição. A obra-prima de Tornatore resgata o ambiente charmoso e vivo dos antigos cinemas de rua. Triste é ver a cena de destruição do Cine Paradiso, refletida nos olhos lacrimosos daqueles que vivenciaram um período que não resistiu ao tempo. Talvez seja a dor de quem esteve no paraíso, mas não sabia.



2.A Rosa Púrpura do Cairo (1985) – Para quem não aprendeu o que é “função metalinguística” nas aulas de Português, vale a pena ver este filme de Woody Allen. Mas, quem quiser simplesmente se deliciar com a magia do cinema, também recomendo. Mia Farrow vive uma garçonete pobre e triste que assiste todas as tardes ao mesmo filme. Até que um dia, os personagens da telona começam a questioná-la, causando a maior confusão. E mais: saem do filme e vão para a vida real, interferindo no dia a dia daquela moça. É a magia do cinema contaminando o real.



3.Os picaretas (1999) – Concordo, não é a melhor comédia de todos os tempos. Steven Martin e Eddie Murphy já fizeram coisa muito melhor (O que dizer de Antes só do que mal acompanhado e Um Tira da pesada?), mas acho que vale a pena uma espiada nesse filme de Frank Oz (diretor que anda meio sumido). Além de cenas impagáveis (como aquela em que o personagem de Murphy precisa atravessar uma rua extremamente movimentada, dezenas de vezes), o que me chama atenção em Os picaretas é o fascínio da Sétima Arte sobre o diretor Bobby (Martin). Mas, para ele, não importa ser um “zé ninguém” no mundo do cinema; importa fazer um filme. Aos trancos e barrancos, consegue. Aí, vem a grande cena do longa: o olhar de fascinação quando sua obra é projetada na telona. É a magia do cinema acontecendo.



4.Bastardos Inglórios (2009) – Aí, o internauta que acompanha o Nova Estampa vai me perguntar: onde está o cinema neste filme de Quentin Tarantino? Ora, respondo eu, está em tudo: na linguagem, nas referências, nos personagens e, principalmente, na última cena, quando a ação se passa num cinema de rua. Desde que Tarantino estreou como diretor, ele sempre fez um “cinema referencial”, ou seja, cenas e linguagem que remetiam à história do cinema, principalmente aquele feito nos anos 1970. Em Bastardos Inglórios, é o western spaghetti de Sergio Leone, que pode ser percebido principalmente na abertura do filme. A cena final é poesia pura: os nazistas morrem durante uma sessão de cinema. Isto é ou não uma justa homenagem ao poder da Sétima Arte?



5.A Última Sessão de Cinema (1971) – E não poderia encerrar o Top Listas sem o clássico de Peter Bognadovich. Verdadeira joia da cinematografia norte-americana, essa produção é de uma melancolia e tristeza que deixam qualquer coração em frangalhos. Apesar do título, seu foco central não é o fim de uma sala de cinema; mas sim as transformações que um grupo de jovens vivencia numa cidadezinha no meio do nada. O espaço desolado, a ausência de trilha sonora e o preto/branco acentuam ainda mais o clima de solidão e vazio dos personagens. Parece que a vida não tem sentido naquele local. E o fechamento do único cinema é o ápice da coisa. De certa forma, o pessoal que frequentava o Cine Belas Artes deve ter sentido algo parecido.



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Aproveito para dizer que eu acompanhei de perto o fechamento de duas salas: o Cine Maringá e o Cine Horizonte, ambos da cidade de Maringá (PR). Posso dizer que sou um pouco órfão desse processo de extinção dos cinemas de rua.

2 comentários:

  1. Olá,

    Graças a você, conheço e AMO aos filmes emocionantes de sua Top List, com exceção de "A Rosa Púrpura do Cairo" que nunca assisti.

    Obrigada por esta experiência ilusória mágica do cinema que, infelizmente quanto as salas de rua, é cada vez mais raro encontrá-las.

    Até,
    Adriana.

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  2. Muito obrigado por suas palavras.
    Realmente, lamento profundamente a perda de salas como o Belas Artes, mesmo não a conhecendo.

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