segunda-feira, 4 de julho de 2011

Profissão: Polemista

(revistabrasileiros.com.br)
Na imprensa brasileira, Paulo Francis encarnou como nenhuma outra pessoa a provocação e a impertinência


Quando Paulo Francis morreu em 1997, levou consigo todo um conceito de jornalismo materializado em sua figura histriônica e arrebatadora. Era a morte de um dos últimos jornalistas à moda antiga: iconoclasta, provocador, erudito, senhor do texto, polemista. À época, muitos tentaram encontrar um substituto à altura da verve histriônica de Francis; mas fracassaram redondamente. Claro que articuladores como Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor e Luiz Felipe Pondé seguem de alguma maneira o estilo do saudoso jornalista. No entanto, nada como a originalidade de Francis.

Hoje, quem poderia escrever duas páginas inteiras (no formato standard) todas as semanas nos maiores jornais do Brasil? Ou comentar diariamente fatos da política e da cultura na maior emissora de TV da América Latina? Este, meus caros, era Paulo Francis. Enquanto viveu, escreveu uma das colunas de jornal, Diário da Corte, mais lidas e comentadas do Brasil; na TV, encarnava um personagem histriônico nos comentários sobre cultura e política do Jornal da Globo.

Para o bem e para o mal, o pensamento de Francis era fundamental e repercutia.

E é um pouco dessa vida que o diretor Nelson Hoineff tenta capturar no documentário Caro Francis (2010). Além do depoimento de colegas, inimigos e amigos, o melhor do filme é rever as imagens de arquivo com as performances de Paulo Francis em entrevistas, no Jornal da Globo e no programa da TV a cabo Manhattan Connection. É a mais pura provocação inteligente e divertida.

Francis era capaz de amar e odiar a mesma pessoa ou ideia em frações de segundos, mostrando uma inteligência dinâmica e fora do comum. A prova maior é que iniciou sua carreira na imprensa como trotskista, mas, passado um tempo, acabou se tornando capitalista e direitista. De maneira jocosa, dizia que essa mudança ideológica mostrava que havia “evoluído”. Esse comentário deixou a esquerda brasileira alvoroçada à época. E Francis pouco se importava com isso, haja vista as brigas e desafetos conquistados ao longo do tempo (Caetano Veloso foi um deles).

Realmente, hoje, mais do que nunca, os comentários e a análise despudorada de Francis fazem muita falta.

*****Confiram o trailer:

2 comentários:

  1. muito bom!!! Ótima dica de filme. A postagem me deixou curioso para saber mais sobre esse ícone do jornalismo brasileiro. Parabéns pelo blog!

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  2. Ainda vou assistir.
    Gabriel Birkhann
    http://buracosupernegro.blogspot.com/

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