quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Uma canção para Riobaldo
Quando digo “esquisita”, quero dizer algo que foge a minha compreensão, como é o caso das músicas que nos fascinam, mesmo não as entendendo. Tomo minha própria pessoa como exemplo disso: praticamente analfabeto no idioma inglês, a “língua dos bárbaros” para alguns, ouço e gosto de música cantada nesse código. Tirando uns “yes”, “my names” e tal, o restante das letras é um enigma para minha parca compreensão.
Mas, mesmo assim, deixo de ouvir uma música cantada em inglês? Obviamente que não. Porque isso acontece? Ora, porque a música é universal, rompendo com as barreiras idiomáticas. Na verdade, a letra está escrita na sucessão de melodias e acordes, comunicando, através do som, a dor, a alegria, o desespero, enfim, o sentimento que pode estar expresso na letra.
Mesmo nas letras em português, muitas vezes nem prestamos atenção em seu significado, usando apenas para cantarolar alguns trechos. Seu entendimento está na sonoridade e não na inteligibilidade. Se fosse o contrário, estaríamos reduzindo a arte a mero conjunto de letras, sem levar em conta seu conteúdo. Melhor exemplo disso é o romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, cujo significado não está no entendimento das milhares de palavras inventadas pelo autor, mas sim na musicalidade e da cadência de suas frases. Nesse ponto, somos como o protogonista Riobaldo, que não compreende nem metade do mundo, mas sabe senti-lo e vivê-lo.
Então, sejamos como Riobaldo e pronto.
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Trajetória acidentada
Acho que não sou a pessoa mais indicada para dar conselhos. Mas, não tem problema, dou conselho do mesmo jeito: ingrato leitor, leia o livro Pilatos (1974), escrito pelo jornalista Carlos Heitor Cony. Do enredo às circunstâncias de escrita, trata-se de um romance original e divertido.
O motor central do livro é o personagem que não tem nome (ou anônimo, já que praticamente não tem um nome de batismo), narrador de sua trajetória errante pelo submundo. Nesse percurso, ele conhece figuras pitorescas e vivencia histórias incomuns. Tudo começa num hospital, quando o estranho sem nome acorda de um acidente de trânsito e olha para o lado e vê seu pênis, apelidado por ele de Herodes, num vidro de compota.
Ao longo das páginas do livro, o anônimo carrega a tal compota para todos os cantos. Mesmo não tendo mais a mesma serventia que tinha antes, Herodes permanece junto de seu dono nas mais variadas aventuras. Obviamente, além da questão tragicômica, a trajetória do personagem principal simboliza a castração. Desde os tempos da Antiguidade Clássica, o pênis é visto como um símbolo de fertilidade e masculinidade.
No romance de Cony, a castração também simboliza um desencanto social. O acidente marca o desligamento do anônimo com a sociedade. Até então, ele levava uma vida simples, trabalhando num emprego qualquer e morando numa casa comum. A partir do momento em que se acidenta e perde, na visão dele, seu bem mais precioso, torna-se um pária sem rumo certo. Em suas andanças pela marginalidade, ele conhece o outro lado da sociedade, numa espécie de radiografia machadiana, tal como o personagem Brás Cubas da obra Memórias póstumas de Brás Cubas.
Mas, o que ele faz para mudar essa condição humana? Absolutamente, nada. O estranho sem nome faz como o romano Poncio Pilatos, lava as mãos e constata, de maneira lacônica, que as pessoas felizes são mal informadas.
De certa maneira, o percurso do estranho sem nome marca a própria carreira do autor: após a publicação de Pilatos, ele ficaria 21 anos longe da literatura. Cony também lavou as mãos, desistindo de tentar entender a sociedade através do filtro da literatura.
****Acompanhe trecho de entrevista com Carlos Heitor Cony no Paiol Literário (Curitiba-PR):
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Em busca da história perfeita
Incrível como as traduções de títulos continuam escorregando feio na interpretação dos filmes. Ou cometem erros terríveis de semântica, como “o tiro que não saiu pela culatra”; ou usam mão daqueles velhos clichês, do tipo “dupla explosiva”.
No caso de Vigaristas (2008, dir. Rian Johnson), a tradução do título ficou na segunda opção. Tudo bem, é um filme que conta a história de dois irmãos golpistas. Daí, talvez o motivo para a distribuidora brasileira ter optado pelo infame “vigaristas”. No entanto, é um título que engana o espectador, pois não se trata de um filme policial ou de ação.
Não, The Brothers Bloom (título original) é uma produção sobre a arte de fabular e recriar a realidade. Um desses “irmãos Bloom”, Stephen, se dá bem nos golpes; mas gosta mesmo é de inventar a história perfeita. Nem que para isso ele tenha que sacrificar sua própria vida.
O filme é uma ode à imaginação.
*****Asssista ao trailer e depois veja o filme:
domingo, 5 de dezembro de 2010
Um filme de Michael Caine
Ultimamente, alguns atores consagrados têm atuado no “automático”; ou seja, parecem fazer sempre o mesmo personagem.
Nessa lista, entram Al Pacino, Robert De Niro, Dustin Hoffman, Anthony Hopkins. Tem-se a impressão de que, por terem atingido certo status, não precisam provar mais nada.
Felizmente, não é o caso de Michael Caine. Apesar de seus 77 anos, a cada filme ele mostra nova faceta e empenho na melhor atuação. Para quem não se lembra, Caine é o mordomo Alfred em Batman: o Cavaleiro das Trevas (2008).
Em seu mais recente filme, Harry Brown (2009, dir. Daniel Barber), ele vive o personagem-título: um soldado aposentado, que faz justiça com as próprias mãos para vingar o assassinato de um amigo.
Mas, não pense, inimigo leitor, que se trata de um revival dos matadores à la Charles Bronson. Ao contrário, Harry é triste e lacônico.
****Assista ao trailer:
sábado, 4 de dezembro de 2010
Melodia misteriosa
Como diriam os personagens de Nelson Rodrigues, “é batata”: quem for assistir a O livro de Eli (2010, dir. Albert Hughes e Allen Hughes), vai tentar descobrir o nome do tal livro que é carregado por Eli (Denzel Washington) ao longo dos 120 minutos de filme.
Na verdade, não é preciso ser muito inteligente para adivinhar que livro é aquele. Frustrante, pois esperava uma charada mais complexa.
Mas, pelo menos para mim, o filme apresenta um mistério mais interessante. Em duas cenas, o vilão Redridge (o ótimo Ray Stevenson) assobia uma melodia do filme Era uma vez na América (1984). Trata-se de “Cookie’s song”, ou seja, a “Canção de Cookie”, um dos personagens desse filme do diretor italiano Sergio Leone.
A princípio os dois personagens (Redridge e Cookie) não têm nada a ver um com o outro. Então, por que a música? Sugestão do ator ou ideia dos diretores?
Mistério...
****Assisti ao trailer
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
A máfia de segunda classe
A história do cinema está recheada de filmes sobre a máfia, principalmente a italiana. Quem não se lembra da série O poderoso chefão (1972), dirigida pelo grande Francis Ford Coppola?
E a lista de clássicos sobre mafiosos continua: Os bons companheiros (1990), Era uma vez na América (1984), Scarface (1983), entre outros. Praticamente, se transformou num gênero, o gangsterfilm, que legou diretores e atores fundamentais.
Um deles é o ator Al Pacino, que fez um mafioso de primeira linha, Michael Corleone, na série de Coppola; e, nos anos 1990, um de segunda classe, que é verdadeiro “peão de obra”. Estamos falando do filme Donnie Brasco (1997, dir. Mike Newell), em que Pacino vive Lefty Ruggiero. Ele é enganado por um policial infiltrado, o tal Donnie do título.
Com agonia, acompanhamos a trajetória desse mafioso pé de chinelo, que vê sua única chance de glória ir para o espaço.
****Confira o trailer:
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
À maneira de Charlie Brown
Nos Estados Unidos, existe uma palavra que é usada para designar as pessoas perdedoras: loser. De quadrinhos a filmes, vários segmentos culturais costumam explorar esse imaginário.
O caso mais célebre é o da tirinha Peanuts (amendoim), que, no Brasil, virou a “Turma do Charlie Brown”. Nessa série criada pelo cartunista Charles Schutz, o menino Charlie, apelidado de “menduim”, nunca consegue acertar uma tacada de beisebol. Melancólico, Charlie assume seu lado loser de ser.
No filme Coração Louco (2009, dir. Scott Cooper), Bad Blake (Jeff Bridges) é o loser da vez. Outrora um cantor country de sucesso, Bad vive um momento de decadência, tocando em pistas de boliche e caindo bêbado pelas tabelas. Até que conhece uma jornalista (Maggie Gyllenhaal) que o faz mudar.
Não espere um melodrama; mas sim uma visão dura sobre a vida de um perdedor que tenta se reerguer.
****Confira o trailer:
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Sob aplausos
Grandes filmes costumam entrar para a história com atuações memoráveis, enredos originais, revoluções estéticas e, principalmente, cenas antológicas, daquelas que se tornam referência para homenagens e paródias.
Quem não se lembra do taxista Travis, em Taxi Driver (1976, dir. Martin Scorcese)? A cena em que ele conversa com o espelho (“Está falando comigo?”) já foi até citada em um dos episódios do desenho Os Simpsons.
É o caso do filme Brubaker (1980, dir. Stuart Rosenberg). Vivido pelo ator Robert Redford, o personagem Henry Brubaker enfrenta a corrupção do sistema carcerário para tentar pôr uma penitenciária dirigida por ele nos eixos. Na queda de braço, ele perde a batalha; mas mantém a integridade de seus valores.
A cena final é inesquecível: sob as palmas dos presos da penitenciária, Brubaker se retira emocionado. “Ele estava certo” em acreditar no que era eticamente correto.
****Confira o Trailer:
domingo, 21 de novembro de 2010
Pede pra entrar!
“Tropa de Elite/ Osso duro de roer/ Pega um, pega geral/ Também vai pegar você”. Quem não conhece esta música do Tihuana?
Milhões de brasileiros, principalmente por meio do “mercado paralelo”, fizeram com que Tropa de Elite (2007, dir. José Padilha) se tornasse febre nacional. Todo mundo repetia as palavras do Cap. Nascimento: “Pede pra sair”, “Missão dada é missão cumprida”, “fanfarrão” etc.
Aproveitando o sucesso do primeiro filme, o diretor Padilha lançou Tropa de Elite 2 (2010) no dia 8 de outubro. Agora promovido a tenente-coronel, Nascimento enfrenta um problema muito maior do que o tráfico de drogas: o tal “sistema”, que engloba desde a corrupção policial e política até o surgimento das milícias.
Pra sorte de Irati, o filme entrou em cartaz, no Cine Irati, dia 12 de novembro.
Um conselho, parceiro: não peça pra sair e assista até o fim.
****Trailer:
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Tudo pela arte
Num texto famoso, o filósofo Walter Benjamin afirmava que a arte havia perdido sua aura, ou seja, aquele momento de magia e unicidade.
No filme Um crime nada perfeito (2009, dir. Peter Hewitt), os personagens principais são encantados pela aura de alguns objetos artísticos de um museu.
Morgan Freeman, Christopher Walken e William H. Macy estão na pele de três seguranças que trabalham num museu e são aficionados por arte. Passam noite/dia contemplando quadros e uma escultura. Em outras palavras, cultuam e vivenciam a arte.
No entanto, a notícia de que as obras serão enviadas para outro país causa espanto e apreensão. Aí que começa a confusão, pois farão de tudo para permanecer próximos de seus objetos de adoração. Até mesmo roubar, mesmo sem vocação para isso.
Afinal, vale tudo por uma bela obra de arte. Não é?
Trailer:
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
Cuidado com o predador
Antes de ser governador da Califórnia, nos Estados Unidos, Arnold Schwarzenegger foi um dos reis dos filmes de ação dos anos 1980. Junto com Sylvester Stallone, Schwarza disputava as bilheterias do mundo todo com muita pancadaria, cenas eletrizantes, roteiros simplistas e bom humor. Animava também as noites da Globo, na Tela Quente.
Até hoje ninguém conseguiu substituir os antigos reis. Engraçado, Schwarza tinha tudo para dar errado: sem expressão, nome difícil e músculos demais.
No entanto, fez grande sucesso, tornando-se um ícone dos 80. Exemplo disso é “O Predador” (1987, dir. John McTiernan), uma produção sobre a chegada de um alienígena que caça os soldados do major Alan “Ducht” Schaefer (Schwarza).
Bons tempos em que você sabia quem era o inimigo.
****Trailer do filme:
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
De médico e louco...
Durante muitos anos, sempre ouvia alguém comentar que “M.A.S.H.” (1970, dir. Robert Altman) era um filme muito bom. Como ele não era reprisado na TV aberta e tampouco encontrado nas locadoras, não podia comprovar a tal afirmação.
Até que, recentemente, o encontrei num saldão de mercado. Botei pra rodar no aparelho de DVD e, para minha felicidade, foi uma experiência excelente. É fato: Altman é um cineasta de primeira, pois ele elabora uma visão diferente sobre a guerra. Ao invés das batalhas sangrentas e do tormento psicológico, “M.A.S.H.” mostra o cotidiano fora do comum de um hospital de campanha durante a Guerra da Coreia.
Os dois principais personagens do filme, Duke e Hawkeye, aprontam todas, inclusive jogando golfe em pleno acampamento.
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Como prometido aos leitores da Folha de Irati, eis o significado da sigla M.A.S.H.:
Mobile
Army
Surgical
Hospital
Algo como "Hospital Cirúrgico Militar Móvel"
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sábado, 17 de julho de 2010
Programa Noites 80 vai entrevistar Roger, vocalista do Ultraje
Comandado pela âncora Michele Matos e pelo trio de comentaristas Cristiano Martinez, Márcio Fernandes e Waldecir Kurpias, o programa Noites 80, veiculado pela rádio Cultura FM 93.7 aos domingos (às 20h30), apresenta semanalmente o melhor da saudosa década de 80: música, cinema, TV, moda, costumes, política, economia, enfim, tudo aquilo que faz parte do imaginário cultural daquele período.
Além dos comentários e do tema central, o programa se compõe de diversos quadros. Um deles é o “Convidado Especial”, que a cada domingo traz, via telefone ou em estúdio, uma importante personalidade para comentar sobre algum assunto. Já passaram pelo programa o cantor guarapuavano Sérgio da Matta, a banda Gato Xadrez, o professor Cláudio de Andrade, o artista Ovelha (do hit “Sem você não viverei”) e Kid Vinil, ex-vocalista do grupo Magazine (dos hits “Sou Boy” e “Tic tic nervoso”).
Neste domingo, 18 de julho, o Noites 80 contará com a presença, via telefone e ao vivo, do vocalista e compositor do grupo Ultraje a Rigor, Roger Rocha Moreira. Ícone dos anos 80, o Ultraje fez sucesso com as músicas “Nós vamos invadir sua praia”, “Inútil”, “Ciúme”, “O Chiclete”, “Pelado”, entre tantas outras. Atualmente, a banda continua na ativa, liderada pelo remanescente original, Roger.
SERVIÇO
O programa Noites 80 começa às 20h30, pela Cultura FM 93.7. Também pode ser sintonizado pela web, no http://www.cultura93fm.com.br/ (recomenda-se o Internet Explorer para sintonizar a programação).
Outras informações pelo blog http://www.noite80.blogspot.com/.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Morre autor de “American Splendor”
O mundo dos quadrinhos está menos cinza e melancólico. Ontem, 12 de julho, morreu Harvey Pekar, de 70 anos, o criador da série American Splendor. Traduzidas no Brasil como Anti-Herói Americano, as histórias em quadrinhos de Pekar romperam com o arquétipo maniqueísta e espetaculoso do tradicional gibi de super-herói. Ao enfocar o cotidiano simples e tedioso do homem comum, Pekar renovou as HQs nos anos 70 do século 20.
Na verdade, ele fez parte de um movimento alternativo, que remava contra a maré dominante da Marvel e da DC Comics, gigantes na indústria norte-americana de quadrinhos. Além de Pekar, autores como Robert Crumb, com seu Fritz, The Cat, também fizeram parte dessa tendência. Inclusive, Crumb foi um dos artistas que deram forma e traço ao roteiro de Peaker.
No universo de American Splendor, destacavam-se a vida e as manias do autor, recriado em seus quadrinhos como um protagonista nada gentil e simpático. Ao contrário, ele era ranzinza e melancólico, filtrando o mundo por meio de seu pessimismo e desesperança.
Em 2003, Shari Springer Berman e Robert Pulcine levaram os quadrinhos de Peaker para o filme Anti-Herói Americano, adaptando seu universo ficcional a uma espécie de “metacinema”. Para o papel de Pekar, o ator Paul Giamatti. O filme conquistou o prêmio especial do júri no Sundance Film Festival naquele ano.
O autor se foi, mas sua obra permanece como um dos melhores retratos do cotidiano nada heroico do homem comum.
Veja trailer de Anti-herói americano aqui.
Uma lembrança distante
Durante uma entrevista com José Maria Orreda, importante historiador e ex-professor da cidade de Irati (PR), fiz uma pergunta mais pessoal: qual era a lembrança do primeiro filme assistido no antigo Cine Theatro Central. Por algum motivo, a memória prodigiosa do prof. Orreda não funcionou.
Fazendo o mesmo exercício de recordação, consegui lembrar de meu primeiro filme numa sala de cinema: Os Caça-fantasmas (1984, dir. Ivan Reitman ), cuja sessão acompanhei ainda criança no saudoso Cine Maringá, lá na “cidade canção”. Apesar de ser uma comédia, fiquei com bastante medo das imagens, principalmente do monstro que perseguia Rick Moranis. Lembro também que fiquei torrando a paciência de minha mãe, pedindo para me explicar as cenas do filme, pois não conseguia ler com rapidez as legendas.
Ainda hoje, quando entro em um cinema, sinto-me como aquele menino com medo de um filme que não entendia.
Para assistir ao trailer, clique aqui.
sábado, 10 de julho de 2010
Programa Noites 80 entrevista Kid Vinil
No ar desde o dia 13 de junho, o programa de rádio Noites 80 tem conquistado a cada domingo mais espaço e audiência na região de Guarapuava, no Centro-Sul do Paraná. Comandado pela âncora Michele Mattos e pelo trio de comentaristas Cristiano Martinez, Márcio Fernandes e Waldecir Kurpias, o programa apresenta semanalmente o melhor da saudosa década de 80: música, cinema, TV, moda, costumes, política, economia, enfim, tudo aquilo que faz parte do imaginário cultural daquele período.
Graças ao sucesso de público, o Noites 80 passa, a partir deste domingo (11 de julho), a contar com mais meia hora de duração. Assim, inicia-se às 20h30 e termina às 22h, pela Rádio Cultura FM 93.4.
Além dos comentários e do tema central, o programa se compõe de diversos quadros: “Garimpando”, que resgata músicas e artistas “desaparecidos” do cenário musical; “Trilha Sonora”, que nos leva até as músicas de sucesso de filmes e novelas; “Talento Meu”, um convite à criatividade dos ouvintes; e “Convidado Especial”, que desfruta da companhia de personalidades para comentar sobre algum assunto.
Nesse quadro, já passaram pelo programa o cantor guarapuavano Sérgio da Matta, a banda Gato Xadrez, o professor Cláudio de Andrade e o artista Ovelha (do hit “Sem você não viverei”). E, neste domingo, o grande Kid Vinil confirmou entrevista ao vivo para o Noites 80. Ex-vocalista do grupo Magazine, Kid fez muito sucesso na década oitentista cantando “Sou Boy” e “Tic tic nervoso”. Hoje, ele continua na ativa, apresentando programas de rádio e TV, escrevendo para sites, discotecando em festas como DJ e fazendo shows com a Kid Vinil Xperience.
Assim, fica o convite para a viagem cultural aos anos 80: http://www.cultura93fm.com.br/ (recomenda-se o Internet Explorer para sintonizar a programação) e http://www.noite80.blogspot.com/.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
A magia do cinema
Concordo, o filme Os Picaretas (1999, dir. de Frank Oz) não é a grande comédia do cinema contemporâneo.
No entanto, Eddie Murphy e Steve Martin garantem momentos muito engraçados e que funcionam bem na telona. Por exemplo, a cena em que o personagem de Murphy quase morre ao atravessar uma rua movimentada é impagável. O pior é que ele tem de repetir isso até ficar bom.
Mesmo sendo uma comédia, como disse no início do texto, o que me chama atenção nessa produção não se refere necessariamente ao humor. Tem a ver com o enredo central: Martin faz um diretor de pouco prestígio que tenta emplacar um grande filme em Hollywood. Para isso, ele usa de vários estratagemas para conseguir tal proeza.
Aos trancos e barrancos, ele consegue. Aí, vem a grande cena do longa: o olhar de fascinação quando sua obra é projetada na telona. É a magia do cinema acontecendo.
Assista ao trailer aqui.
sábado, 26 de junho de 2010
Do texto à telona
Certa vez, Jean-Luc Godard, importante cineasta francês, teria dito que grandes obras literárias não se transformam em bons filmes quando transpostas para a telona. Muitos clássicos do papel já foram “violentados” ao longo da história.
No entanto, algumas exceções contrariam a máxima de Godard. Uma delas é Ratos e homens (1992, dir. de Gary Sinise), adaptação do romance homônimo de John Steinbeck.
O mérito do filme é de ter ido além da prosa seca e tortuosa do livro, conferindo maior sensibilidade aos personagens George e Leenie, interpretados de maneira equilibrada por Gary Sinise e John Malkovich, respectivamente.
Tudo bem, Steinbeck foi roteirista do filme; mas, sem a direção discreta e segura de Sinise, não teríamos uma produção à altura do romance.
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Assista ao trailer aqui.
terça-feira, 22 de junho de 2010
Ao som do Brasil
Apresentação da Orquestra a Base de Cordas contagia Guarapuava
Com direito a bis e ovação da plateia, a Orquestra a Base de Cordas apresentou o concerto “Nosso Som” na noite desta segunda-feira, dia 21 de junho, no auditório da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), campus Santa Cruz.
Indo da valsa à música caipira, o conjunto passeou por um repertório de composições contemporâneas que refletia a diversidade musical brasileira. Mesmo sem conhecer boa parte das canções, o público se identificou com ritmos que fazem parte do “ouvido” coletivo. Não havia como não se sentir familiar com peças que formam o chamado “caldeirão” cultural do país.
Numa palavra, as acadêmicas do curso de Arte/Educação, Tatiane Sabrina Sila e Krisley Motta, definiram o concerto como “excelente”. “A Orquestra a Base de Cordas apresentou um repertório que faz parte das raízes da música brasileira”, definiu Krisley.
Mostrando empatia e carisma, os integrantes do conjunto interagiram com a plateia, explicando a origem das músicas que constavam no programa. Detalhe: boa parte delas era fruto dos próprios membros da Orquestra, que contaram histórias curiosas sobre o processo de criação.
É o caso de “Limão no sovaco”, de autoria de Julião Boêmio. “Fiz essa música em homenagem a um amigo baiano. Certa vez, ele me contou que usava limão no ‘sovaco’ para amenizar o odor. Só que, de tanto usar, ficou com as axilas todas manchadas, ainda mais porque ele saía no sol”, conta rindo Boêmio.
Em sintonia com esse espírito “abaianado”, durante a execução dessa canção o baterista começou a tocar um berimbau, instrumento baiano típico da capoeira. A plateia vibrou quando ele saiu do palco e passou por ela, percorrendo o corredor central ao ritmo da Bahia.
Outro momento inusitado foi a tradicional apresentação dos músicos, que ganhou criatividade. Cada integrante era chamado a se levantar ao som de uma trilha de cinema: “A pantera cor-de-rosa”, “Rock”, “Guerra nas Estrelas” etc. O público entrou na brincadeira, acompanhando tudo com risos e palmas cadenciadas.
ESPONTANEIDADE
Profissionais virtuosos, todos os músicos tiveram oportunidade de mostrar o talento individual nos respectivos solos. João Egashira conta que, apesar da previsão, cada improvisação é única. “O curioso é que nunca conseguimos repetir o mesmo solo ou nota tocada do mesmo jeito, pois aquele momento passou e não volta mais. Por isso, a gente se ‘entrega’ à apresentação, como se fosse a última”, afirma.
E, assim, com bom humor e espontaneidade, a Orquestra a Base de Corda conquistou o público guarapuavano, realizando um concerto ao som da diversidade musical brasileira.
ORQUESTRA
Formado em 1998 pelo maestro Roberto Gnattali, a Orquestra mantém em sua formação atual nove músicos de diferentes instrumentos: bandolim (Rodrigo Simões), piano (Beth Fadel), violão de sete cordas (André Prondóssimo), violino (Helena Bel), violão (Hestevan Prado), violão (João Egashira), Cavaquinho (Julião Boêmio), viola caipira (Junior Bier) e percussão (Luis Rolin).
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Livre como uma borboleta
Para quem conhece a série Oz, reprisada nas madrugadas do SBT, o filme Papillon (1973, dir. Fanklin J. Schaffner) cai bem. Ou melhor, cai mal, pois suas cenas são mais fortes e angustiantes.
Em comum, série e filme apresentam a vida difícil atrás das grades. No entanto, as semelhanças param por aí. O filme com Steven McQueen e Dustin Hoffman tortura o espectador, confinando-o aos espaços enfrentados por Hanri “Papillon” Charriere. É emblemática a cena em que ele quase morre de fome, encarcerado durante dois anos na solitária, comendo insetos e enlouquecendo aos poucos.
O longa-metragem não se preocupa em discutir se o personagem é culpado; ou se o criminoso merece o perdão. O mais importante é mostrar toda a obsessão de Papillon pela liberdade; o que é justo, afinal. Quem não gosta de ser livre?
Livre como a borboleta tatuada no peito do personagem.
domingo, 6 de junho de 2010
Medão
Ultimamente, bons filhos de terror têm seguido a trilha deixada por A bruxa de Blair (1999): medo psicológico, falso documentário, baixo orçamentário e nervos à flor da pele (do espectador, é claro!).
O espanhol Rec fez isso em 2007; e agora, temos Atividade paranormal (2007, dir. Oren Peli). Lançado de maneira despretensiosa, o filme foi crescendo nas bilheterias mundo afora até chegar ao Brasil.
Disponível em DVD, essa produção dá um baita medão, pode acreditar. Ou melhor, “acredite se quiser”, pois o enredo se baseia na presença de espíritos na vida de um jovem casal.
Sem banhos de sangue ou mocinhas peitudas correndo para o lado errado, a ação se concentra somente em dois atores durante uma hora e meia. Gradativamente, a coisa vai piorando até chegar ao desfecho final. Desafio-o, inimigo leitor, a assisti-lo.
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Para ver o trailer, clique aqui.
sábado, 29 de maio de 2010
Pimba na gorduchinha
Apesar do repúdio ao time em questão, sou obrigado a reconhecer que o filme é bom. 23 anos em sete segundos (2009, dir. de Di Moretti e Julio Xavier) é um documentário que reconstitui o dramático jogo com a Ponte Preta, quando o Corinthians quebrou um jejum de 23 anos sem ganhar um mísero título.
Alternando momentos engraçados e melancólicos, essa produção desenha a alma do futebol brasileiro. Com tudo aquilo que tem de ruim, bom, ingênuo e exagerado.
Mas, para mim, o momento mais emocionante não está nas imagens; e sim na locução de Osmar Santos, recuperada dos arquivos da Rádio Globo. O “pai da matéria” impressionava pela grande quantidade de palavras ditas por minuto. Ouvi-lo dizer “pimba na gorduchinha e ripa na chulipa” era melhor do que ver o jogo.
Mas, anos atrás um acidente de carro comprometeu sua narração. Nossos ouvidos sentem sua falta, Osmar.
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Veja o trailer aqui.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Sessão CINEMANIA: Longe do “Elementar, caro Watson”
Depois do vexame de Destino insólito (2002), filme com sua ex-esposa (Madonna), a carreira de Guy Ritchie parecia condenada a seguir ladeira abaixo. Nem parecia mais aquele cineasta criativo de Jogos, trapaças e dois canos fumegantes (1998) e Snatch: porcos e diamantes (2000), quando impulsionou o chamado novo cinema inglês.
Mas, ele começou a voltar aos trilhos com RocknRolla (2008) e agora com esse Sherlock Holmes (2009), em mais uma adaptação sobre o famoso morador da Baker Street.
Desta vez, o detetive criado por A. Conan Doyle ganhou uma roupagem mais moderninha. Ao invés do cachimbo curvo e do jeito blasé, Holmes é apresentado pelo seu lado mais sarcástico, charmoso e aventureiro. Digamos que Ritchie preferiu uma versão pop do detetive, carregando nas cenas de ação. Os fãs mais xiitas não gostaram, mas ficou legal.
Ah, e o melhor: sem o famigerado “Elementar, caro Watson”.
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Veja o trailer de Sherlock Holmes aqui.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Quase o último dos caciques
Como todos sabem, algumas regiões do Paraná sofreram forte influência da colonização gaúcha. Segundo o jornalista Aramis Millarch, num de seus artigos para o jornal O Estado do Paraná, nos anos 1980, os costumes do Rio Grande do Sul foram trazidos pelos imigrantes daquele estado para o Paraná a partir da segunda metade do século 20.
As regiões mais afetadas foram o Oeste e o Sudoeste. Nessa história, o Centro (indo de Guarapuava a Irati) também passou pelo mesmo processo.
Como consequência dessa colonização, nasceram os CTGs (Centros de Tradições Gaúchas), locais onde se pode dançar, cantar e cultivar o orgulho de ser descendente do povo gaúcho.
Num desses CTGs, Jair Lemes, Nelson Teixeira e os irmãos Adilson e Marcelino Batista Mores se reuniram para o lançamento oficial do grupo Os Caciques, em 1981, durante uma apresentação no antigo distrito de Candói, pertencente a Guarapuava (a 250 km de Curitiba, capital paranaense).
Passados quase 30 anos, hoje Candói é uma cidade, a cultura gaúcha continua presente nos lares guarapuavanos e os bailes ainda são animados pelo ritmo fandangueiro de grupos como Os Monarcas e Os Serranos.
Mas, e Os Caciques, ainda continuam na ativa?
Para saber mais sobre isso, a reportagem do blog Folhão entrou em contato com Jair Lemes, guitarrista e violonista do grupo. Ele conversou durante meia hora sobre a história dos Caciques; sua carreira-solo, que já está no segundo CD; a música gaúcha; entre outros assuntos.
INÍCIO
Jair Lemes recorda com carinho dos anos iniciais de Os Caciques, quando lançaram o primeiro de sete trabalhos, Fandango de Campanha (1983). “Na época, não existiam tantos grupos musicais gravando. A gente gravava um LP e todas as 12 músicas rodavam nas rádios”, afirma.
Segundo Lemes, três canções não podiam faltar no repertório dos bailes “Amor esquecido”, “Saudade de Guarapuava” e “Fandango de Campanha”.
Mesmo com a presença de grupos de maior destaque no cenário sulista, como Os Monarcas e Os Serranos, ele diz que Os Caciques sempre tiveram espaço cativo. “O público guarapuavano gosta e valoriza a música composta e cantada por gente desta terra”, complementa.
COMPOSIÇÃO
Diante da “facilidade” de fazer covers de canções de outros grupos, o cacique afirma que a proposta deles sempre foi de compor material próprio, pois havia necessidade de projetá-los. Para isso, não podiam se limitar a “copiar” as canções alheias.
Sobre isso, Lemes explica um pouco sobre o processo de composição, já que ele também é autor de vários sucessos gravados por seu grupo. “Para compor, depende da inspiração. Geralmente, a gente se baseia em histórias verídicas, contadas por pessoas que vêm falar conosco. Aí, através de uma frase, a gente ‘tira’ o tema para fazer a composição”.
GAUCHESCO
Uma das marcas da música gauchesca é a referência ao dia a dia do típico habitante dos pampas. Nas letras de Os Caciques, é muito comum encontrar menção ao campo e ao cavalo. “Geralmente, me questionam sobre a obsessão do gaúcho falar tanto no cavalo. É porque o cavalo se configura no meio de transporte do homem do campo. Antigamente, não havia essa facilidade de hoje, com asfalto para todo lado. Para se locomover de um lado para o outro, cada um tinha que ter seu cavalo. Por isso, a música gauchesca precisa desse elemento”, explica Lemes.
ACORDEON
Instrumento emblemático na música gaúcha, o acordeon (também chamado de gaita, sanfona ou “acordeona”), não podia faltar. “Um grande grupo começa com um grande gaiteiro. Por isso, temos até hoje o Adilson Mores como integrante dos Caciques, representando o instrumento”, alerta Lemes.
SHOW
Quanto perguntado sobre um grande show dado pelos Caciques, o guitarrista guarapuavano se lembra de um baile realizado em Itapetininga, interior de São Paulo, para mais de 15 mil pessoas.
“Mas, já tocamos em vários lugares do Brasil, principalmente em São Paulo, norte do Paraná e Rio Grande do Sul. Já tocamos em quase todos os CTGs que você ouvir falar. E, é claro, Guarapuava é o nosso carro-chefe, nossa cidade natal”, complementa.
NOVOS RUMOS
Antenado com os rumos da música gauchesca, Lemes aponta algumas tendências atuais. Para ele, um ritmo que predomina hoje em dia é o vaneirão, muito tocado nos bailes, pois é bastante animado.
Outro é o bugio (criado pelo gaiteiro Neneca Gomes, o som foi inspirado no ronco dos macacos bugios), que, segundo ele, andava esquecido; mas está voltando com força total, principalmente, na dança.
Quanto aos novos grupos gauchescos, o guitarrista cacique é um pouco reticente, principalmente em relação à Tchê Music. “Olha, acho que essa tal de Tchê Music não tem preservado a essência da autêntica música gaúcha. O pessoal desse gênero está modificando demais o ritmo tradicional, descaracterizando-o”, explica.
CARREIRA-SOLO
Segundo Lemes, atualmente Os Caciques continuam na atividade, reunindo-se ocasionalmente para animar bailes ou simplesmente pelo prazer de tocar juntos, com a seguinte formação: Jair Lemes; Beraldo do Amaral; Adilson Mores e seu filho, Adilson Jr. “O último trabalho gravado foi o CD Tocando baile, lançado em 2004. De lá para cá, fiz uma compilação dos maiores sucesso do grupo no CD Coletânea Os Caciques e lancei em 2009. Para o ano de 2011, estamos programando as comemorações de 30 anos do grupo”, afirma.
Paralelamente, Lemes está investindo em sua carreira-solo. Em 2005, lançou Cantando pra Guarapuava; em 2008, Vida de artista; e, para 2010, pretende gravar o terceiro CD.
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Crédito da Foto: Divulgação
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Smiths ao som de Tião Carreiro & Pardinho
Na mistura entre distorção e suavidade, a banda Charme Chulo resgata o “rock caipira”
Guitarras elétricas combinam com a rusticidade da viola caipira? Os Mutantes já mostraram isso uma vez. E agora, o pessoal da banda curitibana Charme Chulo prova novamente, produzindo um autêntico rock rural.
Formado por Igor Filus (voz), Marano (baixo), Leando Delmonico (guitarra) e Rony Jimenez (bateria), o Charme Chulo surgiu em 2004, com o EP “Você sabe muito bem onde estou”. À época, chamou a atenção da crítica especializada ao fundir o rock oitentista do The Smiths (banda emblemática liderada pelo cool Morrissey) com a moda de viola de Tião Carreiro & Pardinho (dupla fundamental na história da música sertaneja de raiz). Era o chamado “rock caipira” que voltava com força, agora numa roupagem mais pop e bem resolvida.
Não é de hoje que as bandas brasileiras de rock costumam transitar pelo mundo do sertanejo de raiz. Nos anos 60 do século passado, os Mutantes já haviam feito experimentação na canção “2001”, aliando o ritmo caipira com o rock. Nos anos 70, a dupla Sá & Guarabira se uniu a Zé Rodrix para compor alguns clássicos do “rock caipira”. E, nos anos 90, o Ultraje a Rigor, do criativo Roger Rocha Moreira, gravou a música “Vamos virar japonês” com Tonico e Tinoco.
Nessa nova empreitada, o Charme Chulo vai além, apresentando maior consistência na fusão entre a distorção da guitarra e a suavidade da viola. Mais do que isso, os “caipiras ingleses” de Curitiba conseguiram organicidade ao som, ou seja, tem-se a impressão de que é perfeitamente normal ouvir, numa mesma canção, a eletricidade e o timbre cristalino cada gênero.
PRIMEIRO DISCO
Lançado em 2007, o primeiro CD, que leva o mesmo nome da banda, é prova de que essa fusão entre rock e música caipira funciona. Em seu repertório, letras que recuperam o universo rural, mas com doses urbanas de melancolia e solidão; e ritmos que oram se comunicam por meio de guitarras tristes, ora se transformam em animadas violas.
É um passeio entre a crise existencial dos anos 80, de bandas como The Cure e R.E.M., e a simplicidade do mundo rural dos anos 60-90, de duplas como Zilo & Zalo e o violeiro Almir Sater. O Charme Chulo torna isso evidente em canções como “Mazzaropi incriminado”, “Polaca azeda”, “Piada cruel” e “Apaixonante na tristeza”, só para ficar em alguns exemplos.
A figura do caipira que se perde na vida é o mote de “Mazzaropi incriminado”. A começar pelo título, sua letra faz alusão ao personagem consagrado no cinema pelo diretor/ator/produtor Amacio Mazzaropi: o sujeito simples, ingênuo e de origem rural, que acaba sendo usado e enganado. É a encarnação do Jeca Tatu, trazido da literatura de Monteiro Lobato.
Em versos como “Você se sente um Mazzaropi incriminado/ Um brasileiro que perdeu mais uma chance/ Enganado tanto quanto ele só”, a letra faz uma aproximação entre essa figura do Mazzaropi com a trajetória de qualquer brasileiro. Assim, cria-se uma identificação entre o ouvinte e essa vida comum e sofrida.
Apesar de Mazzaropi ser um elemento que remete ao universo rural, no fundo todos somos esse personagem, ainda que urbanos. Ou seja, pessoas que não cometeram crime algum, mas que pagam o pato.
De certo modo, “Piada cruel” se aproxima dessa discussão, mas sem o enfoque no campo. Versos como “Várias coisas me atormentam/ quando tento entender os dilemas dessa vida” provocam uma reflexão sobre a existência humana.
Já na “Polaca azeda”, o que chama atenção é a sua introdução: uma típica moda de viola caipira. Leando Delmonico, guitarrista e violonista da banda, mostra todo sua habilidade nas cordas duplas. Um desavisado poderia pensar que é uma música de raiz; mas não, trata-se de um bom exemplo de fusão entre o rock e o sertanejo. Logo em seguida, entra a parte elétrica da música, pontuando os solos e a base dessa viola.
O mesmo pode se dizer de “Apaixonante na tristeza”, só que agora o engano se dá na direção do rock oitentista. Tanto no arranjo quanto na voz de Igor Filus percebe-se a influência do The Smiths. E a viola caipira continua presente, fazendo companhia à eletricidade de outros instrumentos.
Os Smiths estão também na temática da letra: “Todos vivendo suas vidas/ e parece que não estou vivendo a minha/ Estou deixando ela passar/ Como um filme que vamos ver depois”. Novamente, o passeio pela melancolia existencial.
NOVO TRABALHO
Dando prosseguimento ao “rock caipira”, o Charme Chulo lançou no final de 2009 o CD “Nova onda caipira”, aprofundando ainda mais a mistura de guitarras e violas. Inclusive, a faixa “Fala comigo, Barnabé!” está disponível para audição no MySpace da banda e foi citada pela versão brasileira da revista Rolling Stone, edição de abril.
Enfim, a mistura do Charme Chulo dá samba, ou melhor, “rock caipira”.
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Crédito da foto: Divulgação
sábado, 15 de maio de 2010
“Difundir a música erudita por meio do acordeon”. Assim se define a missão do Quinteto Persch, grupo gaúcho fundado em 1999 e que se apresentou no dia 12 de maio, em Guarapuava (PR), no Campus Santa Cruz da Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste). Após o concerto, um de seus integrantes, Adriano Persch, conversou durante meia hora com a reportagem do FOLHÃO.
Demonstrando satisfação por mais um concerto realizado, Persch diz que o público guarapuavano foi bastante acolhedor e receptivo, apesar da noite fria e chuvosa. Mais do que isso, segundo ele, as pessoas conseguiram perceber, após o momento de surpresa, que o acordeon não é um instrumento para ser usado apenas na música gaúcha ou no forró, “Se existe tanta diversidade musical e instrumental, então, por que não se pode usar o acordeon para outro tipo de música?”, questiona Persch.
Nesse quesito, ele comenta que, infelizmente, o Quinteto é o único no Brasil que se propõe a tocar apenas com o acordeon, “Para mim, a falta de outras formações com esse instrumento é uma lástima, pois não podemos trocar ideias e experiências, enriquecendo nosso trabalho. Já na Europa, é muito comum encontrar grupos de acordeon, principalmente nos países de origem eslava, que integravam a antiga União Soviética. Só para se ter uma ideia, na Polônia existia o Quinteto de Varsóvia”, que funcionou durante 50 anos”.
Mas, nem sempre a plateia é receptiva como a de Guarapuava. Persch conta que já aconteceu “do público gritar e exigir que tocássemos uma vaneira, no meio de uma apresentação”. O músico explica que isso acontece às vezes porque as pessoas ainda têm uma ideia preconceituosa sobre música. “Persiste aquele ‘ranço’ de que somente gente entendida pode entender composições eruditas; ou de que o acordeon não deve ser usado para tocar Mozart, Vivaldi etc.”, afirma.
Por isso, Persch ressalta a importância da missão do quinteto que leva seu sobrenome, “difundir a música clássica, provando que o acordeon é versátil e envolvente”. Para levar a cabo esse propósito, Persch confessa que o Quinteto não cobra cachê, preferindo trocá-lo pelo valor arrecadado na bilheteria; assim, a instituição promotora não tem quase nenhum custo. Mesmo assim, Persch lamenta que muitas cidades não se interessam pelas apresentações do Quinteto, preferindo manter grandes e belos teatros às moscas.
PRÓXIMO PROJETO
Para finalizar a entrevista, Persch adianta que o próximo projeto do Quinteto é de gravar composições contemporâneas, seguindo a linha da música erudita. Para isso, o grupo já está recebendo e estudando peças compostas por diversos autores. Aliás, um dos integrantes do Quinteto, André Machado, também compõe. “Já faz algum tempo que o André tem produzido obras próprias; mas, a gente ainda fica com certo receio de mostrá-las ao público, durante as apresentações”, afirma Persch.
CONCERTO
Apesar da noite fria em Guarapuava, a apresentação do Quinteto Persch entrou para a história, pois foi a primeira vez que um grupo de acordeon tocou música erudita na cidade, provando que o instrumento “dá samba”.
No geral, o repertório privilegiou peças mais conhecidas do público, criando maior identificação com o concerto. Inclusive, entre uma execução e outra, Adriano Persch conversava com as pessoas, dizendo que as músicas tocadas pelo Quinteto eram bem conhecidas, pois estavam em toques de celular etc., ou seja, no dia a dia de todos. Além disso, Persch, sempre o porta-voz do grupo, contextualizou as músicas executadas, informando sobre a história dos compositores escolhidos. Com isso, o concerto se tornou mais acessível ao público.
O Quinteto também tocou parte do repertório que compõe seu primeiro CD, lançado no ano passado graças à contemplação no projeto Petrobras Cultural 2007, que financia trabalhos selecionados por comissão especializada.
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LEGENDA DA FOTO:
Durante passagem de som, o Quinteto Persch acertou os últimos detalhes do concerto
terça-feira, 11 de maio de 2010
XVI Mostra de Artes Visuais: um olhar sobre a produção atual
Tradicionalmente promovida pela Unicentro (Universidade Estadual do Centro-Oeste), a Mostra de Artes Visuais entra em sua 16ª edição, apresentando, neste ano, a produção contemporânea de diversos artistas paranaenses (além de Osasco/SP). Com as obras sendo expostas no Centro de Exposições do Campus Santa Cruz (Guarapuava/PR), a Mostra segue aberta até o próximo dia 21, nos períodos da manhã, tarde e noite.
Segundo Elizabete Ribas Lustoza, chefe da Divisão de Assuntos Culturais (Dirc), “o objetivo da exposição é divulgar a obra de artistas pouco conhecidos do público; além, é claro, de estabelecer uma interação entre as obras e os visitantes”.
Por isso, Lustoza conta “que a seleção feita pela Clediane Lourenço, curadora da Mostra, levou em conta os artistas com uma carreira reconhecida e consolidada; ou seja, que apresentam obras maduras, com qualidade”. É o caso de Alba Condessa, Jane Sell, Rosane Marochi, Edenilso Benato, Clério Back, Jackeline de Freitas, Silvana Camilotti e Nicole Gutfreund.
Todos eles estão representados na exposição com dois ou três quadros, cuja técnica varia de artista para artista: óleo sobre tela, fotografia, acrílica sobre tela e ilustração digital.
ROSANE MAROCHI
Elizabete Lustoza diz que, após o período de exposição no Campus Santa Cruz, a intenção é de transformar a Mostra de Artes Visuais num evento itinerante. Segundo ela, caso se confirme a ideia, a Mostra segue para o Campus Cedeteg (Guarapuava); em seguida, para Irati, no Campus da Unicentro.
Pra finalizar, Lustoza adianta que a próxima exposição será da artista plástica Rosane Marochi, que reside em Irati. A previsão para início da mostra é o próximo dia 25, seguindo até 4 de junho.
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Crédito da Foto: ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UNICENTRO