terça-feira, 20 de março de 2012

O bom combate

Há pouco mais de 15 anos, morria o jornalista carioca Paulo Francis, marcado pelos textos polêmicos, provocadores e inteligentes


(Montagem a partir de foto de Bob Wolfenson)

 

Era 4 de fevereiro de 1997. O que parecia uma forte dor no ombro, causada por uma bursite mal curada, revelava-se um fatal enfarte do miocárdio. Chegava ao fim a trajetória de um dos mais polêmicos e inteligentes jornalistas da imprensa brasileira: Paulo Francis.

Nascido no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro dos anos de 1930, como Franz Paul Trannin Heilborn, adotou o famoso nome “Paulo Francis” na idade adulta. Logo que começou sua carreira de crítico de teatro e articulista político nos jornais cariocas de fins dos anos de 1950.


Dali até sua morte, foram décadas de intensa atuação jornalística, principalmente como colunista de jornal e TV. Política, literatura, cinema, teatro, enfim, quase tudo era tema da famosa coluna “Diário da Corte”. E tudo escrito com muita propriedade, humor, sarcasmo e espírito provocador. Na TV, o sucesso foi o mesmo no “Jornal da Globo” e no Manhattan Connection.


Claro que hoje, com tanta informação disponível na internet, talvez o colunista carioca não tenha mais a mesma relevância para quem busca informações sobre as novas tendências. Mas, na época da ditadura militar brasileira (1964-1984), era diferente.


“A censura era férrea e o acesso à informação, precário. Francis era uma janela para o mundo, enviando de Nova York informações preciosas sobre filmes, peças, livros, etc.; além de comentários políticos. Os artigos dele circulavam pelas mãos dos estudantes como tesouros”, afirma o jornalista Paulo Eduardo Nogueira, em entrevista à VISUAL.


Autor da biografia Paulo Francis: polemista profissional (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), Nogueira faz um exercício de imaginação: numa sociedade cada vez mais careta e politicamente correta, “como seria o Francis de 2012, com 82 anos de idade?”.


O pesquisador responde dizendo que o polêmico colunista continuaria sendo o mesmo cara irreverente e provocador, usando novas ferramentas de comunicação, caso do blog. “Até os inimigos o leriam diariamente, só para se irritar. Principalmente, a patrulha do politicamente correto, que vem causando um mal terrível ao mundo das ideias, ao estabelecer uma cartilha do que é autorizado ou não. Francis detonaria tudo isso, com exagero e verve”.


E, ao contrário do que muita gente pensa, Francis não fazia a crítica pela crítica, apenas para satisfazer uma necessidade momentânea. Nogueira alerta que a mudança ideológica do polêmico jornalista, que passou de trotskista a conservador, ocorreu após um longo amadurecimento intelectual, que atingiu o ápice nos anos 80/90.


Amado ou odiado; esquerdista ou direitista; esquecido ou atual; assim foi, é e sempre será Paulo Francis.




******Material publicado originalmente na edição 93 da revista Visual

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